Na cidade de Paranaíta, a 849 km de Cuiabá, esta semana, em 22/8, a Polícia Civil do Mato Grosso (PC/MT), em parceria com agentes do Ibama, prendeu em flagrante, homem de 44 anos suspeito de matar onças-pintadas para alimentar seus cachorros.
A prisão foi realizada durante ação que investigava denúncias anônimas sobre abate de animais silvestres. Ao chegar ao local, os policiais e agentes encontraram uma cabeça de onça decepada, pendurada em uma árvore à beira de um rio, além de um tacho onde estavam sendo cozidos carne e ossos do animal.


Segundo eles, os indícios revelam que ela pode “ter sido recém-abatida”. Há suspeitas de que o criminoso tenha abatido, neste mês, pelo menos dois felinos da espécie.
Na fazenda, a polícia também apreendeu armas e munições, “além da carne do animal e gordura que estavam no congelador da residência”, declara a polícia em nota.
Lei branda e petições online
Paula Barbosa, delegada responsável pelo caso, disse que material encontrado dentro do caldeirão foi encaminhado para perícia para ser analisado e o suspeito foi autuado por crime ambiental e porte ilegal de armas de fogo – que utilizava para abater os animais -, e encaminhado para a Delegacia de Paranaíta.

O suposto criminoso passou por audiência de custódia do Poder Judiciário, mas, devido à legislação branda, não ficará preso e responderá ao inquérito em liberdade.
As leis sobre proteção animal não protegem onças-pintadas e outros símbolos da fauna e da biodiversidade e, por isso, precisam de alterações urgentes.
Se revolte, denuncie (pelos números 197, 181 ou (65) 3613-6981), compartilhe notícias em suas redes sociais sempre que tiver conhecimento de uma crueldade como a que contamos aqui.
E assine as duas petições online lançadas pelo movimento Todos Contra a Caça (hashtag #todoscontraacaça):
– Justiça para as onças, que tem apenas 93.755 assinaturas!
– Diga não à liberação da caça no Brasil, que versa sobre projetos de lei que ‘assombram’ na Câmara dos Deputados e, até hoje, angariou 1.472.662 assinaturas).
Caça ilegal e perda de habitat
A cidade de Parnaíta integra a Amazônia, bioma no qual a população de onças-pintadas declinou cerca de 10% nos últimos 37 anos devido à caça e à perda ou fragmentação de seu habitat, segundo relatório do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
O maior felino das Américas também ocorre em outros biomas – Caatinga, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica – e está em risco de extinção.
Na nota divulgada pela Polícia Civil, a instituição destacou que “a onça-pintada é o maior carnívoro da América do Sul, o terceiro maior felino do mundo e o único representante do gênero Panthera (que inclui leões, leopardos e tigres) no continente americano”.
E acrescentou: “Elas ocupam o topo da cadeia alimentar e têm papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas, pois atuam na regulação do tamanho populacional de outras espécies animais”.
A caça de animais silvestres e biopirataria na mira da PF, no Pantanal
Para combater a caça ilegal de animais silvestres e a biopirataria que podem causar o colapso do Pantanal – principalmente devido aos animais de topo da cadeia alimentar, como a onça pintada -, a Operação Yaguara (onça ou jaguar, em Tupi-Guarani) foi lançada oficialmente este mês pela Polícia Federal. Mas as investigações começaram em março em Corumbá, Mato Grosso do Sul, quando o corpo de uma onça-pintada adulta foi encontrado no leito do rio do Paraguai-mirim, sem cabeça.

O crime acendeu alerta nos órgãos de fiscalização porque a PF confirmou que a cabeça do animal foi vendida para o exterior, configurando-se também como prática de biopirataria.
Corumbá faz fronteira com a Bolívia, país conhecido por fornecer partes de onças-pintadas para o mercado asiático utilizadas para fabricar artigos (joias, amuletos e medicamentos tradicionais), que, antes, eram produzidos com partes de tigres.
Certamente a morte da onça encontrada sem cabeça no rio – como a de outros animais silvestres – está relacionada com tais atividades ilícitas.
A ONG Wildlife Traffic nvestigou o tráfico de onças-pintadas no Brasil, entre 2015 a 2020, e divulgou, em relatório, que, nesse período, foram realizadas 30 apreensões de partes do felino no país. Com um detalhe: esse número representa apenas fração dos casos. Somente em 2016, de acordo com notícias divulgadas pela imprensa, a PF apreendeu partes de 19 onças-pintadas.
A presença de investidores chineses na Bolívia aumentou esse tipo tráfico, fortalecendo ainda mais a rede de criminosos que ‘caça por encomenda’. Por isso, operações como a Yaguara são imprescindíveis para identificar os mecanismos e as rotas dessa modalidade de tráfico, além dos caçadores.
Não deixe de denunciar!
A Delegacia da Polícia Federal em Corumbá mantém canais de denúncias anônimas:
– e-mail: uip.cra.ms@pf.gov.br e
– telefone: (67) 99616-2162 (e Whatsapp: (67) 99205-7990).
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Com informações da Polícia Civil/MT (caso do MT) e Agência Brasil e G1 (caso MS)
Fotos: Polícia Civil MT/Divulgação (MT) e Polícia Federal (MS)