Enquanto os crimes ambientais no Brasil ainda tiverem punições leves, infelizmente continuaremos a noticiar barbaridades como esta. Na última quarta-feira, 4/1, o Comando de Policiamento Ambiental do Amazonas (CPAMB) divulgou a prisão de um homem que tentava vender um filhote de onça-pintada pelas ruas de Manaus.
Os policiais descobriram o criminoso através de uma denúncia de que um caçador teria abatido uma onça e tentava vender seu filhote por R$ 20 mil.
Ao chegar na comunidade Agrovila, no bairro Tarumã, na zona oeste de Manaus, foi encontrado o filhote, de cerca de 5 meses de vida, preso numa caixa de madeira. Na casa do homem foram apreendidas uma espingarda de fabricação caseira e munição.
A oncinha foi encaminhada para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturas Renováveis (Ibama). Já o caçador seguiu para a Delegacia Especializada em Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), onde o caso foi registrado, mas não se sabe se continuou detido ou foi liberado.
Atualmente, no Brasil, somente está liberada a caça de controle a uma espécie animal exótica e invasora, o javali-europeu (Sus scrofa) e a seu híbrido, o porco-doméstico (javaporco). Todavia, a pena para quem for autuado matando outra espécie de animal é de apenas seis meses a um ano de prisão e multa.
Diante então de uma punição tão branda, e ainda mais com a falta de fiscalização no país e o incentivo do governo do ex-presidente Bolsonaro para o porte de armas, em especial entre caçadores, os criminosos se sentiram fortalecidos.
Caçadores flagrados em reservas e unidades de conservação
No ano passado mostramos aqui no Conexão Planeta o registro do nascimento de um segundo filhote, só em 2022, na reserva do Rio de Janeiro onde antas ficaram extintas durante um século. A descoberta foi feita graças às imagens obtidas pelas armadilhas fotográficas instaladas pela equipe do Projeto Refauna
na Reserva Ecológica de Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu.
Entretanto, apesar da boa notícia, os pesquisadores revelaram que as câmeras registraram no mesmo local e no mesmo dia que o filhote passou com a mãe, caçadores armados passando pela trilha.
“Infelizmente, imagens de caçadores têm se tornado cada vez mais comuns em nossos monitoramentos. Um dos problemas do aumento expressivo do acesso às armas de fogo é pôr em risco nossa fauna, incluindo espécies ameaçadas de extinção, e a equipe que está constantemente em campo”, alertou o Refauna na época.
Já no Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral criada com o objetivo de preservar um dos mais significativos remanescentes da Mata Atlântica na América do Sul e onde são proibidas a caça e a pesca, entre 2009 e 2019, a Polícia Ambiental e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) registraram mais de 1.300 autos de infração. Entre as principais vítimas estão animais como cutias, pacas, veados, porcos-do-mato, catetos e até espécies de grande porte, como antas, onças-pardas e pintadas.
Desde 2019 houve um salto de 333% nos novos registros de armas para CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo). Entre 2018 e 2021, o número passou de 59.439 para 257.541. A esperança é que agora esse quadro seja revertido. Logo no primeiro dia de seu governo, o presidente Lula assinou uma série de decretos e medidas provisórias, entre eles, um para reestruturar a política de controle de armas no Brasil.
Um outro motivo de preocupação é um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que prevê a legalização da caça esportiva de animais silvestres no Brasil. O PL 5544/2020 é de autoria do ex-deputado federal Nilson Stainsack (leia mais aqui).
*A Polícia Militar orienta à população que, ao tomar conhecimento de ações criminosas, informe imediatamente por meio do disque-denúncia 181, ou do 190
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Foto de abertura: divulgação Polícia Militar do Amazonas (PMAM)
CADEIA PARA ESSE VAGABUNDO ! DEVERIA FICAR PRESO PELO RESTO DA VIDA !
A arma apreendida era uma espingarda CASEIRA. O que CAC tem a ver com isso? Refauna está enganado em querer jogar a culpa sobre quem respeita a lei.