Outro dia me perguntaram porque eu passo tanto tempo – anos no caso -, documentando uma mesma espécie de animal. “O que você já tem de fotos não é suficiente?”. E minha resposta foi (e é sempre) a mesma: “Para um fotógrafo, certamente seria. Mas meu olhar sobre o ambiente não é pelo prisma de uma lente. Eu olho com a curiosidade daquele que quer aprender e entender o mundo onde vivemos”.
Estou, neste exato momento, documentando o Projeto Onçafari, no Refúgio Ecológico Caiman. Uma iniciativa que começou há 5 anos no Pantanal do Mato Grosso do Sul, e onde me tornei o fotógrafo e coordenador de comunicação. Basicamente, este projeto visa valorizar a onça-pintada, maior felino das Américas e há muito tempo ameaçado de extinção devido ao turismo de observação.
Comecei a fotografar projetos de pesquisa com onças-pintadas há mais de 15 anos, época na qual simplesmente observar uma onça em vida livre era privilégio de pouquíssimas pessoas. Eu mesmo cheguei a participar de inúmeras expedições de pesquisa com onças, nas quais tentávamos capturá-las para fins científicos. E, mesmo após 20 dias de busca, muitas vezes aconteceu de voltar para casa de mãos abanando.
Este panorama mudou, e hoje é absolutamente viável admirar este grande animal de forma segura, em cima de um carro, como no Onçafari.
Mario Haberfeld, idealizador e criador deste projeto, de tanto visitar os safáris africanos – onde o avistamento de animais selvagens proporciona deleite aos visitantes e sua conservação -, um dia se perguntou porque não usar o mesmo mecanismo de habituação da África, mas com as onças no Pantanal. E assim surgiu o Projeto Onçafari, o primeira iniciativa de habituação de onças pintadas, com o intuito de promover sua conservação com base no ecoturismo.
Os primeiros anos foram de puro investimento e muita dedicação. Especialistas da África do Sul trouxeram seu knowhow de habituação dos animais com carros, ensinando a metodologia para a equipe do Onçafari. A seriedade da proposta foi tamanha que logo ganhou a validação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnivoros (CENAP/ICMBio).
Hoje, o grupo conta com quatro biólogos residentes na fazenda, com o objetivo de fazer a consolidação deste tipo de ecoturismo, mas também de pesquisas com ecologia de onça-pintada. Ainda fazem parte da equipe os pesquisadores do CENAP, um veterinário com vasta experiência em estudos de onça-pintada, eu e Mario que, apesar de residir nos Estados Unidos, não perde a oportunidade de estar presente nestas terras úmidas pantaneiras, vendo com os próprios olhos o sucesso de sua dedicação.
Este é o retrato fiel de que acreditar e se dedicar a um ideal é o primeiro passo para seu sucesso. E é por conta de idealismos assim que eu fotografo e entrego meu tempo. É por isto que dedico anos a fio documentando o mesmo animal que, no final das contas, deixa de ser apenas uma espécie ou uma imagem para se divulgar em publicações ou em redes sociais. Eu me interesso por histórias e a fotografia é só uma forma de conhecer estas histórias.
Grande Gambarini!!!! Parabéns!
Oi Julia, obrigado!! Fico feliz que tenha gostado!
Fotografia é, além de tudo isso já conhecido, sinonimos e selfies, é também a forma de mostrar para os outros a forma como vemos.
E este seu trabalho é importantíssimo.
Parabéns pelo lindo trabalho de registros da onça. Antes ameaçada hoje, podemos saber que nossos netos poderão ve-las no ambiente.
<3