Em mais uma cena tocante e belissimamente escrita por Bruno Luperi, responsável pela adaptação do roteiro da novela Pantanal, na Rede Globo, o personagem Velho do Rio, interpretado com maestria pelo ator Osmar Prado, emocionou os telespectadores ao falar sobre a poluição dos rios.
“Essas águas que chegam aqui, quando chegam, não são mais como eram antes. Não são mais tão limpas. Trazem nelas veneno, mercúrio. Trazem o cheiro da morte. De onde vem esse veneno que ninguém fala? Que essa gente finge que não vê. Pior do que aquele que mata um bicho, é aquele que envenena as águas de um rio porque esse mata tudo. Mata sem deixar rastro. Mata às vezes ‘inté’ sem nem saber que matou”, diz o personagem revoltado e entristecido.
E o Velho do Rio continua:
“Tudo que vive no rio morre junto dele. O peixe que não morrer envenenado envenena as aves que vão comer ele. Envenena as capivaras, as ararinhas, as onças. Envenena até o bicho homem. E eu me pergunto: quantos peixes vão ter que morrer, quantas aves, quantos bichos de quantas raças diferentes vão ter que se ir até que alguém faça alguma coisa? Até onde vai essa mortandade? Até quando isso vai ficar sem castigo? De todas as maldades que o bicho homem faz?”.
Com lágrimas nos olhos, o misterioso personagem, protetor da natureza e dos animais do Pantanal, questiona finalmente:
“Até quando?”.
Esse é um dos inúmeros momentos em que Luperi usa a novela para levantar questões ambientais e sociais que afligem não apenas o Pantanal, mas diversas outras regiões do Brasil. Recentemente, Zé Leôncio, personagem vivido por Marcos Palmeira, e o Velho do Rio prenderam caçadores. Durante o capítulo vários outros personagem criticaram a ação desses criminosos que matam animais silvestres na natureza por hobby.
Há alguns meses, a novela também abordou o problema dos incêndios. Durante o episódio, mais uma vez, o Velho do Rio chorou, desesperado, quando viu o fogo destruindo o bioma. Foram usadas inclusive imagens reais de 2020, registradas pelo cineasta e documentarista Lawrence Wahba e que fazem parte do longa “Jaguaretê Avá: Pantanal em Chamas”. Naquele ano, quase 30% do Pantanal foi devastado e estima-se que 17 milhões de animais morreram.
Além de entretenimento, sabe-se que as novelas têm, ou pelo menos deveriam ter, um importante papel social: de trazer até o grande público temas que precisam ser discutidos e conhecidos por todos. Pantanal tem feito isso. Brindado os brasileiros com um história de ficção entremeada com tradições locais e as imagens das belezas desse que é maior planície alagável do mundo, mas também, lembrado a todos que o meio ambiente de nosso país pede socorro e necessita de nossa proteção.
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Fotos: reprodução novela Pantanal GloboPlay