PUBLICIDADE

Diretora da Petrobras diz que corais da Amazônia são “fake news científica”, ao defender exploração de petróleo na região

Diretora da Petrobras diz que corais da Amazônia são "fake news científica", ao defender exploração de petróleo na região

Durante uma aula aberta na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na quinta-feira (24/10), a diretora executiva da Petrobras, Sylvia Anjos, afirmou que “Não existe coral na Foz do Amazonas. Isso não é verdade, é uma ‘fake news’ científica. Existem rochas carbonáticas (também conhecidas como calcárias, formadas por sedimentos), semelhantes a corais, mas não são corais. São rochas antigas.”

Sylvia é responsável pela exploração e produção de petróleo da estatal e disse ainda que a Petrobras já tinha realizado um mapeamento científico da região da Foz do Amazonas, antes do estudo de impacto feito como parte do processo de licenciamento junto ao Ibama. “O trabalho, a cargo do Cenpes, o centro de pesquisa da petroleira, em parceira com mais de dez instituições, durou nove anos e não identificou a presença de corais”.

A crítica da diretora da Petrobras é em relação à descoberta de pesquisadores, em 2014, de um extenso sistema de recifes de corais na Amazônia.

“O Sistema Recifal da Amazônia, ou Great Amazon Reef System (GARS), é uma área de mais 13,4 mil km² onde se encontram corais, esponjas e rodolitos, formando um ecossistema único. A descoberta foi confirmada em 2014 e divulgada na revista Science Advances em 2016, sendo amplamente reconhecida, com contribuições de 38 pesquisadores de instituições de renome”, rebate Raíssa Ferreira, diretora de Campanhas do Greenpeace Brasil.

PUBLICIDADE

A organização participou ativamente das pesquisas na região e, em 2017, apoiou novas expedições científicas para investigar esse ecossistema, buscando também entender os impactos potenciais da exploração de petróleo na região. “Afirmar que os corais seriam ‘fake news’ é uma forma de diminuir a importância ecológica da Margem Equatorial para favorecer a exploração petróleo, além de prejudicar a confiança na ciência brasileira e nos fatos”, critica Raíssa.

Ainda segundo especialistas consultados pelo Greenpeace, a Foz do Amazonas abriga uma biodiversidade única e adaptada a condições adversas, como águas turvas e ricas em sedimentos. “Por isso, muitas espécies realizam quimiossíntese em vez de fotossíntese, o que permite a sobrevivência de um sistema recifal no local sem luz solar direta, uma adaptação exclusiva desta região do Atlântico.”

Contudo, em sua palestra, Sylvia repetiu o mantra da Petrobras, de que “o poço que a petroleira pretende perfurar fica 175km da costa do Amapá e a mais de 500 km Foz do Amazonas”, ou seja, se houvesse algum acidente, não traria riscos para a região da Foz do Amazonas.

Ela também disse que todas as exigências do Ibama foram cumpridas, como a construção de dois centros de pesquisa, em Belém (PA) e em Oiapoque (AP), para o atendimento de animais que poderiam ser atingidos por derramamentos de petróleo. A diretora lamentou, entretanto, que não há tempo mais viável em 2024 para iniciar o projeto, mas tem esperança que, em 2025, ele comece.

Extensão dos corais da Amazônia é seis vezes maior do que estimado inicialmente
A 220 metros de profundidade e a mais de 100 km da costa brasileira há recife de corais,
rodolitos e esponjas numa profusão estonteante de cores e formas
Foto: divulgação Greenpeace Brasil

Decisão está nas mãos do Ibama, mas exploração da Petrobras tem apoio de Lula

O polêmico plano de exploração de petróleo pela Petrobras na Bacia da Foz do Amazonas, que conta com o apoio do presidente Lula, é extremamente criticado por ambientalistas, não apenas por causa da descoberta dos corais na região, mas também devido à eventualidade de um possível acidente nesse ecossistema tão frágil, próximo à Amazônia, e ainda, pela insistência na continuidade de investimentos em uma economia baseada em combustíveis fósseis. No ano passado, 80 organizações pediram que o governo parasse seu projeto naquela área.

“O Brasil tem condições de liderar pelo exemplo uma transição energética global e ser protagonista na agenda climática, mas poderá ir de herói a pária climático caso o governo insista na abertura de uma nova fronteira de petróleo na Amazônia”, afirma a diretora do Greenpeace Brasil.

Em maio de 2023 o Ibama indeferiu a licença pedida pela Petrobras para explorar petróleo ali. Na época, Marina Silva declarou que “O governo federal vai respeitar a decisão” e “uma decisão técnica em um governo republicano e democrático é cumprida e respeitada”.

Uma análise dos técnicos do instituto indicou um impacto ambiental com risco máximo em eventual exploração de petróleo na Amazônia. O relatório foi elaborado em abril de 2022, para que o Ibama pudesse calcular, baseado nesses impactos, a compensação ambiental paga pela Petrobras caso o projeto seja aprovado. O valor estimado foi de quase R$ 4,3 milhões, que a empresa teria de investir para compensar os danos que estaria causando naquela área (leia mais aqui).

“Olhando a Margem Equatorial como um todo, no conjunto dos blocos, os próprios derivadores do estudo da ANP [Agência Nacional de Petróleo] demonstram que o petróleo eventualmente derramado na região poderá atingir os manguezais da costa. Além disso, o estudo realizado durante a expedição do Greenpeace Brasil, em março, demonstrou, também por meio do uso de derivadores, que um vazamento próximo aos sistemas recifais do Amazonas permitiria o óleo chegar na costa Guiana Francesa, cuja boa parte do litoral é coberta por manguezais. Ou seja, os impactos ao meio ambiente não reconhecem fronteiras”, reforça Raíssa.

——————

Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular

Leia também:
‘Leilão do Fim do Mundo’: Brasil ignora protestos por fim dos combustíveis fósseis e leiloa mais de 600 blocos para exploração de petróleo
AGU dá parecer favorável à exploração de petróleo na região da Foz do Amazonas, contrariando Ibama e a ministra Marina Silva
O mundo arde de calor, o Pantanal pega fogo, mas o Brasil quer extrair mais petróleo
|
Extensão dos corais da Amazônia é seis vezes maior do que estimado inicialmente

Foto de abertura: Tomaz Silva/Agência Brasil

Comentários
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Notícias Relacionadas
Sobre o autor
PUBLICIDADE
Receba notícias por e-mail

Digite seu endereço eletrônico abaixo para receber notificações das novas publicações do Conexão Planeta.

  • PUBLICIDADE

    Mais lidas

    PUBLICIDADE