Os dados sobre o desmatamento na Amazônia, detectados pelo sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de junho de 2020 a agosto de 2021, indicam 13.235 km2 de área devastada, um aumento de 22% em relação ao período anterior.
Este é a terceira alta consecutiva sob a atual gestão e o maior índice em 15 anos, desde 2006. Mais um recorde! É, também, a primeira vez que o índice sobe por quatro anos seguidos, desde que as medições começaram a ser feitas, em 1988.
Em três anos, a média do desmatamento no governo Bolsonaro é de 11.405 quilômetros quadrados anuais, um número 51% maior do que em 2018, último ano do governo Temer, e 75% do que a média dos dez anos anteriores (2009-2018).
“No seu primeiro dia, Bolsonaro enterrou o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que atravessara cinco mandatos presidenciais, manietou o Ibama, a quem chamava de “indústria da multa”, e, na prática, paralisou o Ministério do Meio Ambiente”, ressaltou o Observatório do Clima (OC), em nota.
“O ex-ministro Ricardo Salles, que ficou famoso por propor ‘passar a boiada’ nas regulações ambientais, foi exonerado por suspeita de nove crimes, entre eles facilitação a contrabando de madeira”, lembra a organização.
“O resultado é fruto do esforço persistente, planejado e contínuo de destruição das políticas de proteção ambiental no regime de Jair Bolsonaro”, declara Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “É o triunfo de um projeto cruel que leva a maior floresta tropical do mundo a desaparecer diante dos nossos olhos e torna o Brasil de Bolsonaro uma ameaça climática global”.
Omissão dos dados no G20 e na COP26
Os dados divulgados pelo Inpe – oficialmente e sem alarde –, ontem, foram consolidados em 27 de outubro e, no mesmo dia, inseridos no sistema eletrônico de informações do governo federal. Portanto, na reunião do G20 e na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP26, Bolsonaro e o ministro do meio ambiente, Joaquim Leite, respectivamente, tinham conhecimento da real destruição ambiental no bioma. Como sempre, optaram e pela omissão.
Em Glasgow, repetindo o que dizia seu antecessor, Ricardo Salles, Leite ainda fez uma correlação entre floresta e pobreza que mais de um estudo já mostrou não existir, e teceu elogios a um suposto reforço na fiscalização ambiental, omitindo que o número de multas na gestão Bolsonaro foi o mais baixo em duas décadas.
“Diferentemente da propaganda que o governo e seus aliados do agro e da indústria levaram à COP26, o Brasil real é este, da terra arrasada, da violência contra populações tradicionais e do crime organizado agindo sem controle na Amazônia”, completou Astrini, do OC.
Durante a conferência climática, ativistas criticaram a delegação brasileira por não divulgar os dados do Prodes, que é considerado mais preciso que os do Deter, cujos dados foram divulgados na semana passada.
Ineficiência militar
Os dados do Prodes também revelam que os mais de meio bilhão de reais gastos em operações militares nessa floresta não impediram o avanço do desmatamento, contradizendo o que disse o vice-presidente Hamilton Mourão,em 24 de agosto, na última reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por ele.
Nela, Mourão declarou que o Prodes revelaria queda de 5% no desmatamento em comparação com o período anterior. Não foi a primeira vez que ele alterou a realidade dos fatos.
Foi mais uma cortina de fumaça, como contamos aqui, no site. Em setembro de 2020, o STF – Supremo Tribunal Federal intimou o governo a explicar operações das Forças Armadas na Amazônia. Não explicou.
Em junho de 2021, o governo assinou dois novos decretos, acenando com a repetição de ações fracassadas no combate ao desmatamento e aos incêndios na Amazônia. Mais do mesmo.
“Bolsonaro precisa ser parado!”
Ontem à noite, Joaquim Leite e o ministro da Justiça, Anderson Torres, participaram de coletiva de imprensa para comentar os dados do Prodes/Inpe.
Sobre a militarização do combate a crimes ambientais, Torres declarou: “Eu não vejo erro estratégico do governo. Com a nossa chegada a gente trouxe, conversamos em nível de governo com Casa Civil, essa responsabilidade para a Justiça e para o Ministério do Meio Ambiente, para que juntos a gente atue da maneira que a gente entende que é mais eficaz”….
E continuou: “Não tem segredo, a gente vai atuar com um volume de policiais fazendo uma atividade repressiva e preventiva, com inteligência fazendo operações policiais para desmantelar o crime realmente como ele tem que ser desmantelado”.
Vai atuar? Vai desmantelar? Com inteligência?
Já Joaquim Leite, ao ser questionado sobre a data de publicação dos dados do Prodes, no sistema do Inpe, no final de outubro – ao qual o governo tem acesso -, alegou ter tomado conhecimento somente ontem.
“Tive contato com o dado hoje, exatamente como vocês”, declarou. “Talvez tenha sido por cautela que o Inpe tenha atrasado a divulgação desses dados, para alguma revisão, mas eu não tenho essa informação do Inpe. O que eu tenho informação é o que foi divulgado hoje e nós estamos aqui deixando claro que esse número é inaceitável e nós vamos combater contundentemente o crime ambiental na Amazônia”.
Vamos? Ainda? Quando? O governo não governa, apenas faz de conta. A Amazônia está chegando no ponto de “não retorno”. A partir daí, a desertificação é certa, como têm alertado os cientistas, há anos.
Em sua declaração sobre os dados do Prodes, o Observatório do Clima ainda faz uma observação muito pertinente: “na expectativa da pavimentação da BR-319, o estado do Amazonas passou Mato Grosso em destruição”. E Astrini sentencia: “Precisamos de uma resposta forte e à altura vinda de toda a sociedade. Bolsonaro precisa ser parado”. Pra ontem!!!
Foto: Christian Braga/Greenpeace Brasil
Com informações do Observatório do Clima, G1, Inpe
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