Na semana passada estive no Mackenzie, em São Paulo, que foi espaço de lançamento do projeto Redes de Confecção Possíveis e Solidárias Empoderando Mulheres, nova empreitada da Rede Design Possível, realizada por meio de convênio com a Fundação Banco do Brasil e com o BNDES.
O projeto envolve 14 empreendimentos de costura e um de bike entrega, distribuídos por diversas regiões da cidade de São Paulo, em Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santo André, Hortolândia e Taboão da Serra. Ao todo, cerca de 70 pessoas serão diretamente beneficiadas, e outras 210 indiretamente.
O trabalho da Design Possível com esses grupos se dá por meio da tecnologia Possíveis Empreendedores, que consiste numa formação técnica e empreendedora de grupos produtivos e empreendimentos de baixa renda. A tecnologia foi certificada pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais nos anos de 2009, 2011, 2013 e 2019.
Neste novo projeto, a formação tem duração de 20 meses, em seis módulos que buscam desenvolver não só o produto final confeccionado pelo empreendimento, mas também sua gestão e identidade: formação de grupo, consolidação da técnica, dinâmica de mercado, desenvolvimento de produto, produção e comercialização, autogestão.
Após a formação, os empreendimentos entram em fase de incubação, que pode durar de um a dois anos. Um processo dinâmico de acompanhamento dos grupos, a partir de um Plano Estratégico construído de forma coletiva. O acompanhamento se dá a partir das atividades definidas pelo Plano, em especial na comercialização, desenvolvimento dos negócios e clientes. Trata-se de uma fase mais flexível, que permite testar produtos, serviços e parcerias comerciais.
“Esse projeto nasceu porque a rede Design Possível atua há muitos anos com grupos produtivos de costura, e surgiu a oportunidade de aplicar a tecnologia social Possíveis Empreendedores e, também, de adquirir máquinas de costura específicas para esses grupos. Muitas das máquinas de que os empreendimentos precisam são caras, e não existe esse dinheiro em caixa, ou eles não conseguem assumir esse custo. Conseguimos reunir em um mesmo projeto a possibilidade de revisar e reciclar alguns conteúdos para grupos que já são nossos parceiros, construir novas relações com outros grupos que não estavam tão próximos e adquirir maquinário para que eles possam gerar ainda mais renda a partir de novos trabalhos e melhoria da produção”, avalia Julia Asche, integrante da rede Design Possível e coordenadora do projeto.
Entre os resultados esperados estão aumento de renda para os grupos, que as mulheres estejam em posições maiores de liderança e o fortalecimento dessa rede ao longo do processo. Conhecer melhor os grupos, entender outras realidades e construir novas pontes de oportunidades para todos.
Conheci alguns desses empreendimentos solidários ao longo da trajetória da rede Design Possível. Nesta nova empreitada, tem grupo que já trabalhou em outros projetos da rede e grupos recém-criados. O mix de experiências é que dá boa parte do tempero desse projeto.
“É um grande desafio pra nós também, estamos repensando a tecnologia social porque a maioria dos grupos já passou por algum tipo de formação. Então, estamos criando e trazendo novas ferramentas de design. Buscando entender quais são os temas prioritários de cada empreendimento e buscando métodos junto com eles. A construção dessa metodologia está sendo pensada e definida conjuntamente”, diz Alice Naomi Takahashi Nishikiori, integrante da rede Design Possível e responsável pelas formações no novo projeto.
A logística de frete, um dos grandes desafios dessa cadeia de costura, também é objeto de reflexão e busca por soluções. A participação do empreendimento Giro Sustentável, que trabalha com bike entrega, é uma das soluções propostas para fortalecer oportunidades mais sustentáveis ligadas à moda, atendendo à necessidade de repensar os grandes custos durante o processo produtivo tanto na compra de insumos quanto na distribuição das peças.
Fotos: Amirali Mirhashemian/Unsplash e divulgação Design Possível