Duas novas espécies de pequenos peixes – um deles, muito, mas muito pequeno mesmo – acabam de ser descritas pela ciência. Elas foram descobertas na região do rio Aripuanã, um afluente do rio Madeira, próximo ao município de Apuí, a mais de 1 mil km da capital Manaus. Ambas pertencem ao gênero Poecilocharax e à subfamília Crenuchinae, que teve sua última adição de uma espécie em1965.
O primeiro deles é o Poecilocharax callipterus, com aproximadamente 3 centímetros, apresenta longas barbatanas vermelho-alaranjadas e uma mancha escura na base da cauda (acima, na imagem de abertura). Já o Poecilocharax rhizophilus é o que chamou mais a atenção dos cientistas porque mede apenas cerca de 2 centímetros de comprimento, quando adulto, e por isso é considerado um “peixe miniatura”. Ele possui uma coloração amarelo brilhante com uma faixa preta ao longo de seus flancos e tem uma barriga prateada a branca.
A miniaturização é muito incomum entre os peixes e estima-se que somente 100 dos 2.700 conhecidos na Amazônia sejam miniaturas.
O Poecilocharax rhizophilus foi encontrado tanto numa área de cachoeira, como próximos a igarapés na beira do rio. Por isso seu nome, “rizo”, do grego, raiz, e “philos”, gostar de. Já a outra espécie foi coletada em águas escuras de riacho, com alta concentração de folhas em decomposição.
A descoberta das novas espécies foi feita durante expedições realizadas entre 2015 e 2016 pelo pesquisador brasileiro Murilo Pastana, que atualmente faz pós-doutorado no Smithsonian’s National Museum of Natural History, em Washington D.C., nos Estados Unidos, e seus colegas Willian Ohara, da Universidade Federal de Rondônia, e Priscila Camelier, professora da Universidade Federal da Bahia. A descrição faz parte de um novo artigo científico publicado no Zoological Journal of the Linnean Society.
O minúsculo Poecilocharax rhizophilus: apenas 2 centímetros
Todavia, apesar da boa notícia, ela vem acompanhada de uma má. Os cientistas acreditam que as espécies já estão em risco de extinção. Segundo levantamento do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em abril de 2021, o município de Apuí aparecia como o segundo com o maior índice de desmatamento na Amazônia.
“Foi emocionante encontrar novas espécies. Mas no campo, vimos a floresta pegando fogo, caminhões madeireiros carregando árvores enormes e trechos desmatados transformados em pastagem de gado. Isso nos fez sentir muita urgência em documentar essas espécies e publicar este artigo o mais rápido possível”, diz Pastana.
Outra possível ameaça a essas espécies é o aquarismo, pois pelo seu tamanho, são muito procuradas por esse mercado de peixes exóticos para aquários. Diante disso, os cientistas recomendam que elas já sejam listadas como “em perigo de extinção”, sendo que o Poecilocharax callipterus deve ser classificado como ”criticamente ameaçado’, por existir em apenas um riacho da região.
O Madeira é o segundo maior rio da bacia do Amazonas e tem a maior biodiversidade de peixes já conhecida em todo o mundo.
Os peixinhos coloridos encontrados no rio Aripuanã: o macho é mais avermelhado que a fêmea
*Com informações do Smithsonian Institute e da CNN International
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Fotos: Murilo Pastana e Willian Ohara
