Essa é a definição de Fernando Figueiredo, fundador da cooperativa Sonho de Liberdade, que mobiliza dezenas de pessoas no reaproveitamento de madeira descartada. Os cooperados são egressos do complexo penitenciário da Papuda, em Brasília.
Criada formalmente em maio de 2009, promove a inclusão de pessoas e o cuidado com o meio ambiente: cerca de 1.500 toneladas de madeira são retiradas do lixo todos os meses, e a renda obtida com a venda é distribuída entre os cooperados, beneficiando muitas famílias.
Localizada na Cidade Estrutural, periferia de Brasília, a Sonho de Liberdade encontra-se ao lado do Lixão Estrutural – que começa processo de desativação esse ano, com a criação do Aterro Sanitário Samambaia. Inicialmente trabalhando com a fabricação de bolas esportivas, o grupo logo percebeu a quantidade de madeira em boas condições descartada e começou a trabalhar com o reaproveitamento desse material.
De toda a madeira manipulada, o que eles não é possível aproveitar na fabricação de objetos e mobiliários é vendido em forma de biomassa para ser usada como combustível por uma multinacional. O grupo também recicla sobras de cimento usinado e produz meio-fios e bloquetes para piso.
Além de piquetes, estacas e madeira sob medida para a construção civil, o grupo logo começou a fabricar mobiliário, descobrindo na marcenaria outra boa oportunidade. Uma parceria com a Baru Design proporcionou a fabricação de uma linha de móveis ecológicos batizada de Estrutural em homenagem ao bairro.
Voltando às origens
A parceria começou em 2010, com o designer Thiago Lucas, formado pela Universidade de Brasília. Quando ainda era estudante, dedicou seu trabalho de conclusão de curso à melhoria dos produtos da Sonho de Liberdade, garantindo mais rentabilidade aos cooperados. A produção cresceu e, desde então, Thiago vem se especializando no desenvolvimento de mobiliário com reaproveitamento de madeira. Hoje, a Baru Design, da qual Thiago é sócio, oferece seis modelos de móveis e dois de objetos, fabricados em parceria com a Sonho de Liberdade.
Com o apoio da Fundação Banco do Brasil, a cooperativa adquiriu equipamentos e ferramentas para a produção de móveis e ampliou as instalações elétricas. E, em janeiro deste ano, inaugurou uma fábrica de bolas esportivas e um show room de móveis artesanais. A nova fábrica vai incluir mão de obra de detentos.
A fabricação de bolas esportivas foi, na verdade o ponto de partida de toda essa história, quando o fundador da cooperativa, Fernando Figueiredo, se integrou ao projeto Pintando Liberdade, desenvolvido pelo Ministério dos Esportes, com o qual ensinava aos detentos da Papuda a confecção manual de bolas esportivas.
Com o acesso ao regime de progressão de pena, Fernando criou projeto de inclusão dirigido a egressos do sistema penitenciário. O grupo se instalou em 2005 na Estrutural, com foco em produção artesanal de bolas. Em 2007, com dificuldade para concorrer com produtos chineses e coreanos, viu uma nova oportunidade de trabalho na madeira descartada.
A produção de bolas para futebol de salão, de campo e vôlei começa no galpão da cooperativa, com o corte do material laminado e sintético e a serigrafia – que imprime estampas de acordo com a encomenda. A costura manual é feita por presidiários do Distrito Federal e entorno, colaborando para a redução da pena – cada dia trabalhado representa três a menos no total da pena.
Assim, se organiza essa cadeia de produção, tendo em seu centro a inclusão social e o cuidado com o meio ambiente.
Foto: Divulgação/Baru Design