Você já consumiu produtos originários de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, o MST? Se não, perde muito. Os produtos são sempre muito bons, sejam hortaliças, grãos, cereais ou alimentos beneficiados em forma de geleias, pães, mel, sucos e muitos outros.
Na semana passada, o MST realizou em Belo Horizonte uma feira nacional, como a que aconteceu aqui na cidade de São Paulo em outubro do ano passado. Feiras assim são realizadas em diversas cidades pelo Brasil. Alimentos e produtos de toda parte do país se concentram num mesmo espaço e é possível ver o alcance e a força desse trabalho campesino.
O MST está organizado em 24 estados nas cinco regiões do Brasil. São cerca de 350 mil famílias que conquistaram o direito à terra, organizadas em 100 cooperativas e 96 agroindústrias, segundo informações da própria entidade.
Entre os compromissos destacados pelo movimento está o de produzir alimentos saudáveis. Organizados em cooperativas, associações e agroindústrias nos assentamentos, seus integrantes buscam desenvolver a cooperação agrícola, potencializando as condições de produção das famílias, promovendo a melhoria da renda e o trabalho no campo.
A agricultura familiar como alternativa de produção e consumo saudáveis, com respeito às pessoas e à natureza, é um dos preceitos do movimento. E a cidade de São Paulo ganha, no próximo sábado, 30/07, um espaço todo voltado para essa produção: o Armazém do Campo.
O local fica no bairro dos Campos Elísios – próximo de Higienópolis e Santa Cecília -, que contará com centenas de variedades de produtos vindos da Reforma Agrária, de pequenos produtores, indústrias orgânicas e agroecológicas, muitos deles organizados nas cooperativas e produzidos pelos assentados. Será uma ponte entre os paulistanos que querem consumir alimentos saudáveis com preços acessíveis e os camponeses e camponesas do Brasil.
As histórias dos assentamentos e a conquista da produção orgânica são muito ricas e variadas e percorrem múltiplos pontos do mapa do Brasil. Como o caso do arroz consumido pelas escolas de São Paulo, que hoje é a maior marca de arroz orgânico da América Latina, o Terra Livre, produzido por assentamentos nas cidades de Tapes, Guaíba, Eldorado do Sul, Nova Santa Rita, Viamão, Charqueadas e São Gabriel, no Rio Grande do Sul, comprado inclusive pela Prefeitura de São Paulo para a merenda de seus estudantes – conforme já mencionei em post anterior. São cerca de 500 produtores assentados, que controlam pragas e plantas invasoras por meio de uma tecnologia natural.
Ou do sul da Baía, em que os assentamentos Terra Vista e Nova Aliança, nas proximidades de Arataca, e Ojeferson Santos e Loanda, próximos ao município de Itajuípe, recuperaram áreas de fazenda devassadas pela praga vassoura-de-bruxa, que exterminou a produção de cacau, investindo na produção orgânica. Hoje, seis assentamentos na região possuem o selo de Inspeções e Certificações Agropecuárias e Alimentícias (IBD), que atesta se o produto cultivado na área é produzido sem nenhum uso de produto químico. Toda a produção dos assentamentos – que além do cacau inclui cupuaçu e hortaliças – pode ser comercializada com esse selo.
Ou ainda o assentamento Palmares II, no Pará, que abriga mais de 500 famílias em regime de agrovila, que trabalham com uma produção sustentável, consorciando agrofloresta com frutas, madeira e piscicultura.
O Armazém do Campo é também uma oportunidade de estreitar o diálogo entre a população do campo e a cidade, mostrando a importância da Reforma Agrária para a mesa do povo brasileiro. De conhecer muitas histórias de resistência desses campesinos e campesinas. E claro, de comprar alimentos mais saudáveis e justos. Bora?
Confira, no vídeo abaixo, mais uma boa história: a experiência de associações e cooperativas de agricultores, consumidores e ONGs, consolidando circuitos curtos de comercialização de alimentos agroecológicos provenientes de região de Mata Atlântica, no litoral norte do Rio Grande do Sul:
Fotos: Divulgação/Facebook do MST