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Chocolate com terroir amazônico: cacau nativo e comunidades tradicionais

Chocolate com terroir amazônico, elaborado a partir de cacau nativo daquela região brasileira. É isso que César De Mendes, chocolateiro, como ele mesmo se define, produz na fábrica localizada em Colônia Chicanos, em Santa Bárbara, região metropolitana de Belém (PA).

A partir de uma pesquisa criteriosa por cacau nativo ou selvagem, indicado por populações tradicionais da Amazônia brasileira – índios, quilombolas, caboclos e ribeirinhos – e por agricultores familiares, é estabelecida uma parceria com as comunidades, que recebem treinamento para produção de cacau fino, incluindo colheita, seleção, fermentação e secagem.

César tem trabalhado com essa matéria prima a vida toda. Químico, com diversas especializações e dois mestrados, foi professor, pesquisador e consultor de empresas na área de engenharia de alimentos.

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Como consultor, com grande número de clientes vindos do exterior, ele logo percebeu que havia uma ‘expectativa de Amazônia’, de encontrar algo mais exótico, mais alusivo à cultura amazônica. E em se tratando de chocolate, isso não existia por lá. Os produtores estavam na verdade buscando reproduzir técnicas e até mesmo a estética dos chocolates suíço, belga, francês, e o turista queria experimentar um chocolate que tivesse uma marca amazônica.

A partir desse contexto, César, que já trabalhava com produção de chocolate com a marca Amazonas Cacau, transformou seu olhar e toda a cadeia produtiva. Em 2014 surgia a chocolates De Mendes.

Hoje o trabalho desenvolvido por ele tem viés cultural, e os pilares de produção são uso exclusivo de cacau nativo da Amazônia e associação com comunidades tradicionais no processo produtivo.

“Foi um modo que encontramos de ter relevância em relação à sociobiodiversidade, à defesa da floresta, com responsabilidade social e ambiental. Temos uma relação justa com as comunidades, pagamos um preço digno para as pessoas que trabalham conosco. É um trabalho de valorização desse cacau e de favorecimento dessas comunidades envolvidas, para que elas possam vender o cacau por um preço melhor. Muitas vezes as pessoas das comunidades parceiras não são assistidas por políticas públicas, principalmente por causa do isolamento geográfico, e o cacau e as especiarias da floresta se tornam um meio de acesso”, avalia César.

Com dois pontos de venda – um em Belém, no chamado Polo Joalheiro, e outro em São Paulo, no Mercado de Pinheiros, em parceria com o Instituto ATA e o Instituto Socioambiental -, a chocolates De Mendes vende a maior parte da sua produção diretamente ao consumidor, na maioria das vezes antecipadamente. “A prateleira é muito fria, ela não se comunica com as pessoas. A gente não tem como contar essa história, das comunidades, das pessoas que estão envolvidas no processo e os impactos que isso pode trazer para a Amazônia”, avalia César.

Os desafios são muitos. A dificuldade em obter crédito junto aos bancos para ampliar a produção – hoje a De Mendes não consegue atender toda a demanda por chocolate por ter um déficit tecnológico, o que poderia ser resolvido com crédito para modernização, por exemplo – e a comunicação desse produto e de tudo o que ele traz são citados por César como os maiores.

“Quero vender para pessoas que se identifiquem com o produto, com a Amazônia, com a causa, as comunidades tradicionais e a sociobiodiversidade que temos aqui. Isso tudo sempre tem que vir junto. Estou muito disposto a enfrentar desafios e a desenvolver metodologias, maneiras de fazer, sempre por pessoas e para pessoas. Se não tivermos uma leitura da necessidade das pessoas, de sua compreensão, parceria e inteligência envolvidas no trabalho, fica muito difícil dizer que se está evoluindo no negócio. Podemos evoluir financeiramente, mas estar com o caixa cheio de dinheiro e vazio em conteúdo e valores.”

Foto: Chocolates De Mendes/divulgação

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