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‘Ativismo de sofá’: o valor de cada clique


Este é o primeiro post do blog Ideias Que Movem, um espaço no qual quero alimentar conversas sobre mobilização e engajamento, com exemplos práticos, dicas e boas histórias.

Para começar, acho bom desmistificar a ideia de que existam fórmulas prontas para mobilizar as pessoas para seja o que for. A gente não mobiliza ninguém. As pessoas é que se mobilizam e se engajam naquilo que, em determinado momento, lhes interessa. E se desengajam quando querem. Sempre pelas mais diversas razões, de ordem pessoal ou grupal.

Ou seja, cabe a nós ter clareza sobre nossos próprios objetivos de mobilização, construir uma boa narrativa ao redor, entender bem os diferentes públicos e o que os move em um âmbito pessoal e propor possibilidades de mobilização que lhes chamem a atenção e facilitem a participação.

Até aí conseguimos chegar com um certo controle da situação. Mas o ato de participar, de se envolver, é sempre pessoal e sobre este não temos nenhum controle real.

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Neste sentido, toda a participação é importante. Pense no ativismo de sofá, conhecido em inglês por slacktivism, muitas vezes encarado com certo desprezo pela sua aparente ineficácia. A acusação frequente é que curtir um vídeo, comentar ou compartilhar um post seriam,  no fundo, formas de escapismo, de não se envolver de verdade e profundamente em uma causa.

Isto, para mim, representa uma visão muito estreita do que significa o processo de mobilização. Na real, as pessoas ditas “comuns”, ou seja, aquelas que, no seu cotidiano, não estão envolvidas diretamente, de forma profissional ou voluntária, em movimentos ou ações de mobilização, têm muitas outras coisas com que se preocupar. São bombardeadas diariamente por todo tipo de mensagem e têm de decidir muito rapidamente no que vão investir tempo de atenção ou de ação prática.

Conseguir que prestem atenção na nossa mensagem e que façam, até mesmo, um gesto aparentemente simples, como dar like ou compartilhar um post, é, por si só, uma tarefa complexa. Que se torna ainda mais complicada na medida em que pedimos que elas façam ações que demandem um nível maior de engajamento, como participar de uma atividade pública na rua ou fazer uma doação para uma causa.

Mas todos estes níveis de engajamento estão interligados e a pessoa que hoje dá um simples like pode ser aquela que, amanhã, vai para as ruas. Uma pesquisa de 2015 documentou justamente o impacto dos chamados “ativistas de sofá” para o sucesso de grandes mobilizações. Os autores deixam claro sua conclusão principal: “Provamos de forma consistente que os participantes periféricos são críticos para aumentar o alcance da mensagens de protesto e gerar conteúdo online em níveis que são comparáveis ​​aos participantes principais”,

Ou seja, o núcleo mais engajado de qualquer processo de mobilização é fundamental para agregar e consolidar as mensagens. Mas são aqueles que gravitam ao redor e se solidarizam de alguma forma, a ponto de compartilhar imagens, mensagens, histórias para suas próprias redes, que garantem o maior alcance da mobilização.

Então, se você está organizando uma mobilização, pense que cada click conta – e conta tanto como as pessoas que estão fisicamente na rua. Ofereça oportunidades para as pessoas apoiarem sua causa, ainda que seja de forma simples, no princípio, continue conversando com elas e estimulando-as a participar mais vezes e de forma mais complexa. Celebre as vitórias para as quais elas colaboraram ativamente, ainda que com apenas um like.

Se você, como eu, não perde a oportunidade de dar um like e compartilhar posts relevantes para uma causa, continue fazendo isso. Tua contribuição é única e fundamental. Lembro, aqui, João Cabral de Mello Neto:

“Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos”.

Nossos gritos de galo fazem muita diferença!

Foto: Tim Gown/Unsplash (São Francisco, Califórnia/EUA)

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Aldomar Ferreira de Sousa
Aldomar Ferreira de Sousa
7 anos atrás

OLA BOM DIA! É ISTO MESMO … RENATO. É SÓ ASSIM QUE TUDO SE EXPANDE NO MUNDO.
PARABÉNS PELO SEU TRABALHO.

Adriana Souza Silva
7 anos atrás

Excelente. Adorei o artigo. Um abraço!

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