Em 2017, Angelina Costa, professora de Educação Infantil da Rede Pública de Educação da cidade de São Paulo, observou o interesse de sua turma pelas formigas que avistavam no parque onde costumavam passear juntos. As crianças acompanhavam seus caminhos, imaginavam como era por dentro do formigueiro. “Elas estão levando muita comida… Deve ter geladeira!”.
Com a intenção de promover mais ações do lado de fora, Angelina resolveu pesquisar e buscou na internet outras possibilidades de conectar as crianças e a natureza. Foi assim que descobriu nosso programa Ser Criança é Natural, que dá nome a este blog.
Em agosto se inscreveu para a edição de grupos da iniciativa Caixas da Natureza, nossa brincadeira de trocas de experiências e elementos da natureza, lançada em 2017, que é uma espécie de ‘amigo secreto’ entre amigos, grupos e famílias. A Ana Carol já escreveu sobre ela aqui, no Conexão Planeta.
Esse foi o despertar para uma incrível jornada com sua turma. A primeira ação foi comunicar as famílias sobre a intenção de participar da iniciativa e solicitar que brincassem com seus filhos na natureza. Assim, ajudariam na construção da Caixa de Natureza. “Pedi para as famílias coletarem elementos com as crianças enquanto passeiam, mesmo no caminho da escola, para que as crianças as trouxessem para colocar na caixa”.
A adesão foi grande. As experiências na escola cresceram.
As crianças passaram a observar melhor a natureza ao redor. Observavam os passarinhos, deitavam no chão do parque para admirar as nuvens e, então, decidiam explorar o território. Como a escola fica numa área de periferia, não há praças ou parques por perto. Um senhor que cultiva hortaliças nas proximidades abriu as portas de seu quintal para a criançada. Toda a comunidade escolar se animou. E, assim, também acompanharam a expedição: merendeiras, mães, equipe de apoio. As crianças se encantaram com a floresta e com as histórias que habitavam ali. Conheceram árvores, sementes, flores. “A que eles mais gostaram foi a Pente de macaco. Daquele dia em diante sempre que retomávamos sobre o passeio, essa planta aparecia nas memórias”.
Angelina também percebeu a potência dos elementos da natureza nas brincadeiras criativas. Os gravetos viravam varinha mágica, espada, o coração da bananeira virou um cetro de rainha. Estar atenta a essas criações fez a educadora repensar os materiais oferecidos para as crianças nas brincadeiras do dia a dia. Os elementos da natureza tornaram-se presentes na rotina com as crianças.
Caixa da Natureza pronta, a turma se reuniu para ir à agência dos Correios. Antes de despachar a Caixa, uma última conferida: mostraram tudo que estava dentro para as famílias e, por fim, entregaram o pacote.
Dias se passaram enquanto as crianças esperavam pela caixa que chegaria para elas. “Quando a campainha da escola tocava, elas corriam para ver se era o carteiro”. Quando ela finalmente chegou, foi uma festa e um universo de descobertas.
“A Caixa da Natureza da nossa turma veio de um grupo de uma escola que fica muito próxima à praia. Os relatos contam que as crianças brincam na praia com frequência. Por isso, muitos elementos que compunham a caixa eram novidade para a maior parte das crianças. Elas nunca os tinham visto, imagina a felicidade e a curiosidade”.
A percepção de que os elementos da natureza variam de acordo com o local de origem e, ao mesmo tempo, são constituídos de uma mesma matéria, tem efeitos mais profundos do que a gente pode imaginar. Intuir a identidade terrena de toda a matéria viva pode deixar marcas importantes na psique das crianças.
E, nesta história, ainda teve um reconhecimento muito importante: os registros de todo o percurso de Angelina e sua turma lhe rendeu o 1º lugar no Prêmio Professor Destaque da Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo.
Ficamos tão felizes com essa experiência que resolvemos gravar um vídeo da conversa com a Angelina. Ele está disponível em nosso canal no You Tube, mas já o compartilhamos abaixo, no final deste post, pra facilitar.
Para nós, que organizamos esta brincadeira, dá muito orgulho por este reconhecimento do trabalho realizado por Angelina, mas muito mais, por saber que a nossa brincadeira de trocas tem cumprido muito bem seu papel: levar as crianças para fora dos lugares fechados para brincar com a natureza e viver experiências únicas.
Foto: Ana Carol Thomé