Muitos pais que hoje têm filhos pequenos e estão sensibilizados sobre a importância de brincar com a natureza não tiveram essa experiência quando pequenos. Desde a década de 1970, as cidades têm sido totalmente construídas, arquitetadas: as ruas foram asfaltadas, os prédios tomaram os terrenos livres e cheios de vegetação e as crianças foram pouco a pouco relegadas a passar mais tempo trancadas em suas casas e no sofá, assistindo TV e, mais tarde, na companhia de videogames e, mais recentemente, de computadores, tablets e celulares. Deixaram, assim, de brincar ao ar livre e o espaço aberto – ao qual seus corpos pertenciam – foi substituído pelo espaço da tela em que o corpo fica “de fora”.
Esses pais que agora são nossos leitores aqui no blog, que participam dos encontros presenciais e dos cursos que promovemos, estão aprendendo a incluir a natureza nos cuidados com seus filhos. Nós nos preocupamos com esses pais e nos perguntamos: como eles vão expressar esse entusiasmo e encantamento? Como eles vão revelar um olhar amoroso sobre a natureza se nunca tiveram uma experiência sensível, delicada e intensa com os seres não humanos?
Para nós, os pais também precisam ter suas próprias experiências, ter seus momentos de observação, de entrega e de solitude. As crianças aprendem por imitação, na maioria das vezes. E, por isso, precisam de pais que também tenham essa experiência. Então, se não a tiveram na infância, que a tenham agora!! Que possam crescer e se desenvolver junto com seus filhos tendo a natureza como mestra.
Viver essa sensação (mesmo já adulto) através do contato direto e sensível com a natureza é imprescindível para compreender e se aproximar das sensações e das experiências que as crianças têm. As brincadeiras propostas no livro Atividades em Áreas Naturais (divulgado aqui no Conexão Planeta), da Rita Mendonça (uma das autoras deste blog), são algumas boas dicas de como isso pode ser feito, com ótimos resultados.
Quando essa experiência toca nosso corpo de adulto, muda a percepção de como ela acontece com a criança. A sensibilidade toca o nosso olhar e nos provoca a olhar as descobertas e experiências das crianças de maneira diferente.
Assim, não se esqueça de reservar, sempre que possível, algum momento em que você contemple o seu próprio silêncio, entrando em contato com o silêncio das matas e dos jardins e conectando seu corpo com aquilo que surpreende e fascina as crianças.
Foto: Renata Stort
Edição: Mônica Nunes