Poucos lugares no Brasil reúnem características naturais e culturais tão emblemáticas quanto a região conhecida como Cabeça do Cachorro (alusão ao seu formato no mapa), no extremo norte do Amazonas. A imagem do post foi feita lá, durante um pôr do sol nas aldeias Yanomami de Maturacá e Ariabú, tendo ao fundo a muralha de montanhas da Serra do Imeri.
Como se não bastasse, escondido atrás dessa barreira e mantendo sua aura de mistério, está Yaripo. Conhecido por nós, os näpe (não índios), como Pico da Neblina, essa montanha simbólica de 2.994 metros de altitude, incrustrada no meio da floresta amazônica, é o ponto culminante da terra brasilis.
Claro que, tanto a Terra Indígena Yanomami quanto o Parque Nacional do Pico da Neblina (que, para quem não sabe, se sobrepõem), estavam na minha lista de lugares prioritários a conhecer na vida. Mas não é uma empreitada trivial: além da logística complexa, para chegar ao Yaripo é preciso ter a permissão do povo Yanomami. E, por se tratar de um Parque Nacional sem programa de visitação regular, também demanda autorização do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade – ICMBio.
Ocorre que, historicamente, a região padece por conflitos entre indígenas, garimpeiros, visitantes e órgãos governamentais. Como consequência, as expedições ao pico foram interrompidas em 2005. E é triste saber que o “teto” do país permanece fechado há mais de uma década, sem possibilidade de ser visitado.
Mas a situação está prestes a mudar: uma conjunção de esforços individuais e institucionais, envolvendo pessoas do ICMBio, da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), do Instituto Socioambiental (ISA), além, é claro, da Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA) e da Kumirayoma (Associação das Mulheres Yanomami), estão na fase conclusiva do processo de reabertura do Yaripo. Em breve, os amantes da natureza, das montanhas, da Amazônia e da cultura indígena, poderão se lançar em uma expedição ao topo do Brasil, conduzidos pelo povo Yanomami.
No meio dessa história, e em função da minha vida dupla (além da fotografia, atuo também em projetos envolvendo o uso da economia como ferramenta para a conservação), tive a felicidade de ser convidado para auxiliar com a organização dos meandros financeiros dessa operação. Passei uma semana nas aldeias ajudando a desenhar a viabilidade econômica da iniciativa e, obviamente, fotografando enlouquecidamente quando tinha algum tempo livre.
Mas, apesar de ter visitado o Parque Nacional do Pico da Neblina tecnicamente, ainda não fui ao cume (o que, a meu ver, é equivalente a ir ao Parque Nacional do Iguaçu e não ver as Cataratas). Mas vou resolver isso logo, já que, em breve, será mais fácil transpor essa grande barreira ao Yaripo. E, quando falo em barreira, me refiro a todos os conflitos que, finalmente, estão sendo superados, o que irá trazer benefícios tanto às populações indígenas quanto à natureza da região. Porque, quanto à barreira de montanhas da foto, essa os Yanomamis tiram de letra!
Dados da foto:
– Câmera Nikon D810
– Objetiva Nikon AFS 24-120mm f/4G ED VR @ 24mm
– Exposição: ISO 250, Abertura f/4, Velocidade 30s
– Filtro graduado ND 0.9 (3 stops)
– Tripe + disparador
– Uma caixa d’água de 20 metros de altura para subir.
Querido Mestre,
Além de testemunha ocular das maravilhas deste planeta, em particular do pedaço brasileiro, me dizes que és um dos articuladores da solução dos conflitos entre povo autóctone e usurário e isso se apronta para um bom fim. Que notícia! E nós, onde podemos te ajudar e aos autóctones?
Que planos são estes e onde estão plantados para que a gente possa ficar atento e participar deste movimento?
Saiba que a nossa Roda de Passarinho está prontíssima para voar, como já voou com os Suruí, os Karajá, no Parna Viruá, em Caracaraí, na Escola Jatobazinho, no Igapó-açu, no Quilombo Jatimane, no vale dos Sonhos…
É tanto canto bonito, que suas barreiras desaparecem aos pés do povo que ali sempre viveu, embora saibamos estarem cercados de conflitos, ah, estes sim, precisam de ti, de gente ciente da Natureza, os poucos a entender estarem nela tanto quanto ela na gente.
Êta que já ficou confuso isso tudo, né mesmo? Mas, está contigo a resposta e sabes o que quero dizer.
Abração!
Ô meu amigo! Que coisa boa receber essa mensagem e oferta tão valorosa! Apesar de não ser supresa para mim que você se disponha a ajudar com isso. =0)
Olha, a primeira fase desse trabalho (que pode se tornar longo ou mesmo sem fim) é a reabertura das expedições ao Yaripo. Na sequência, vamos buscar novos atrativos e atividades para a região. E então será fantástico poder contar com a Roda de Passarinho. Como deve imaginar, a região tem um potencial brutal para observação de aves. E entre os Yanomami, são os mais jovens que dominam e se interessam mais pelos pássaros.
Certamente vamos conversar mais sobre isso!
Abração
Quando tiver alguma expedição por estas regiões da cabeça do cachorro, gostaria de participar! Moro em São Gabriel da Cachoeira.
Olá Sediel! Desculpe a demora na resposta! Irei de novo para São Gabriel em breve. Mas por enquanto, estamos na fase de estruturaçào das expedições ao Pico da Neblina com os Yanomami. Quando rolar alguma expedição que mais gente possa participar, eu aviso! Um abraço