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Bahserikowi e Biatüwi: medicina e comida indígena no coração de Manaus

Ser aberta a vivenciar experiências que não fazem parte do meu dia a dia e da cultura na qual fui criada sempre me trouxe a possibilidade de ser temporariamente transportada a outros mundos.

É assim com a leitura, no contato com a terra, com a música, com a comida. E é assim que eu amplio e questiono meu próprio horizonte de existência.

A cidade de Manaus tem me proporcionado muitas dessas experiências. E hoje quero abordar uma, em específico, que diz respeito à valorização da cultura indígena por meio da medicina e da comida.

É no centro da capital do Amazonas, no coração de Manaus, especificamente naquela que é considerada sua primeira e mais antiga rua, que se localiza o Bahserikowi – Centro de Medicina Indígena da Amazônia. Uma ampla casa modesta por fora e muito rica por dentro.

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O idealizador e coordenador do Centro, João Paulo Barreto, da etnia Tukano, me dizia que o objetivo do espaço é oferecer uma política diferenciada de saúde a partir do conhecimento indígena, oferecendo opções naturais de saúde.

Barreto, que é doutor em Antropologia pela UFAM (Universidade Federal do Amazonas), apresenta duas práticas de cuidado da saúde que são oferecidas no local: o bahese, tipo de benzimento cuja origem é o Alto Rio Negro usado pelos especialistas indígenas (kumuãs) para curar as doenças; e plantas medicinais para diversos tipos de doença, remédios guardados pela floresta.

Mas o Bahserikowi não se limita a consultas e tratamentos de saúde. É também lugar de diálogo com outros saberes e intercâmbio cultural. Abriga oficinas de saberes indígenas, uma casa de festas tradicionais, de formação de futuros kumuãs, para que esse saber se fortaleça nas aldeias.

Inaugurado em 2017, o Centro sobreviveu à pandemia e passou a abrigar também a primeira casa de comida indígena do Brasil, o Biatüwi. A cozinha é o espaço da chef Clarinda Ramos, da etnia Sateré-Mawé. A casa de comida é uma maneira de (re)afirmar sua cultura através da comida.

E o cardápio reflete uma parte da tradição e alimentação indígena, com potentes combinações de peixes, caldos apimentados e acompanhamento de formigas. A cultura alimentar dos povos originários. A culinária da casa une a comida dos povos Sateré-Mawé e Tukano.

A interação com o grupo que toca o Biatüwi torna ainda mais intensa a experiência, compartilhando os saberes por trás do preparo da comida, em que situações ela é servida e como ela alimenta o corpo e o espírito. Todos os ingredientes são originários de comunidades indígenas familiares.

É nessa conexão, quando chega minha quinhapira – caldo apimentado com peixe -, que aprendo que a pimenta é a base alimentar dos povos do Alto Rio Negro, que limpa, purifica e vitaliza o corpo.

As bebidas fermentadas são uma vivência à parte. Experimentei o aluá (de abacaxi), o sapó (de guaraná) e o tarubá (de mandioca).

Foto: Mônica Ribeiro

Uma visita ao Centro de Medicina Indígena e um almoço na Casa de Comida Indígena foi pouco tempo para tanta riqueza. Com a sorte de encontrar João Paulo e Clarinda, que compartilharam uma riqueza de conhecimento que enriqueceram por demais a minha vivência.

Minha próxima ida a Manaus já tem esse destino novamente no horizonte. E também o mergulhar um pouco mais nessa seara por meio do livro de João Paulo, “O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro”, tese de doutorado em antropologia defendida por ele na UFAM (Universidade Federal do Amazonas).

Edição: Mônica Nunes

Fotos: reprodução/Instagram

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