Esta é uma daquelas fotos que, se não fosse eu mesmo o autor, me deixaria com uma pulga atrás da orelha. Ficaria curioso em saber como ela foi feita, já que fotografar um grupo de aves em voo, normalmente implica em que elas apareçam todas com tamanhos parecidos na imagem, e não com essa grande diferença de perspectiva.
O processo que tornou possível fazer essa foto começou em 1979. Nesse ano, uma ilha isolada da costa brasileira, em formato de anel, foi decretada Reserva Biológica. E esse formato de anel não acontece por acaso: tem origem no fato de que ali já existiu o topo de um vulcão. E, à medida que o seu interior afundou, permaneceu na superfície apenas um anel de recifes de coral, formação conhecida como atol.
E, como já dei a dica de que estamos falando da costa brasileira, dá para deduzir que se trata do Atol das Rocas. Ele é o único atol do Atlântico Sul, e tem uma importância ecológica tão grande, que foi destinado totalmente à conservação. Só atividades de proteção e pesquisas são permitidas ali.
Pois bem, tive o privilégio de ser convidado como fotógrafo em uma expedição organizada pela SOS Mata Atlântica, que também atua em Unidades de Conservação marinhas e apoiou a construção de uma base de pesquisas no atol. E, ao chegar, tive a sorte de conhecer uma das mulheres admiráveis da minha vida: Maurizelia De Brito Silva, a “Zelinha”.
Zelinha é conhecida por ser a grande guardiã do Atol das Rocas. Contou que pisou lá pela primeira vez em 1991, se apaixonou pelo lugar e, certamente, o amor foi correspondido. Passou a dedicar (e às vezes até a colocar em risco!) sua vida ao atol, e hoje é a Chefe da unidade.
Ao desembarcarmos, ela nos chamou para a base de pesquisa e, apesar da ansiedade de todos, não deixou ninguém pisar fora da casa antes de nos passar todas as regras. Ocorre que o lugar é, entre todas suas maravilhas ambientais, um imenso berçário e viveiro de aves marinhas. Então há ninhos e milhares de aves por todos os lados. E nossa presença lá não poderia causar distúrbios nesse equilíbrio frágil, por isso o cuidado era tão importante.
E o resultado de toda essa dedicação é visível o tempo todo. As aves, por estarem tão protegidas, não veem as pessoas como ameaça. Então, é possível caminhar pelo meio dessas revoadas de trinta-réis-das-rocas, como se estivéssemos vivendo num conto de realismo fantástico.
Isso me permitiu fazer esta foto que, em vez de ter sido feita com uma teleobjetiva, foi feita com uma lente grande angular, já que os bichos estavam a apenas alguns centímetros da minha cabeça. E isso deu essa perspectiva e a sensação de proximidade, que acho tão legais nessa imagem.
Assim, dedico essa postagem à Zelinha, cuja dedicação de décadas deu asas à conservação do Atol das Rocas.
Agora, as informações técnicas: Câmera Nikon D7000 Objetiva Nikon 18-200mm @ 18mm + filtro polarizador ISO 400 – Abertura f/8 – Velocidade 1/640s