É comum, no início de cada ano, muitos de nós fazermos uma retrospectiva do ano anterior, avaliando escolhas e acontecimentos, usando nossas experiências para guiar o novo período que começa.
Lembro do meu primeiro post aqui, uma pincelada introdutória sobre economia solidária, que depois ganhou a companhia de muitos outros, sempre buscando demonstrar a riqueza, a multiplicidade e os arranjos possíveis dessa nova e necessária economia.
Ao longo do ano, pesquisando e conhecendo de perto empreendimentos, cooperativas, projetos e políticas públicas voltadas à economia solidária, procurei trazer a esse espaço um quadro amplo e bastante variado dessas manifestações: produção de café em Minas, valorização da sociobiodiversidade da Caatinga e do Cerrado brasileiro, cooperativas de habitação, compra de alimentos orgânicos para merenda escolar, produtos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), fabricação de cerveja artesanal, coletivos de comunicação, de arte, empresas que trabalham diretamente com cooperativas e empreendimentos solidários, a conquista de espaços para comercialização na cidade de São Paulo, a relação com a Rede de Saúde Mental, grupos de consumo responsável, agricultura familiar orgânica, turismo comunitário, empresas recuperadas.
São histórias que revelam como essa economia envolve pessoas em todo o país.
Nos últimos anos, comecei a procurar pela economia solidária em todos os lugares onde vou. Passei o fim de 2016 em minha cidade natal, Juiz de Fora, e encontrei, dentro do mais novo shopping center local, um mercado colaborativo com produtos de arte, moda e artesanato local.
Conversando com uma das artesãs, Claudia Bonsanto, descobri que o espaço foi alugado por empreendimentos e empreendedores solidários e funciona desde a inauguração do shopping, há seis meses. Foi um projeto experimental que durou até 30 de dezembro e, segundo sua avaliação, a experiência de ter uma vitrine dos produtos solidários num shopping foi muito positiva e trouxe bom retorno. São Paulo também passa por essa experiência de hackear espaços de consumo de grandes marcas no Center Norte, até o final deste mês.
Cláudia já trabalhou com economia solidária também na cidade de São Paulo e vem acompanhando atentamente o movimento em Juiz de Fora. Lá há outros espaços em que os produtos são disponibilizados ao público – em duas praças e numa feira realizada em um hotel da cidade.
No fim de 2016, conversei com o presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil (Unisol Brasil), Leo Pinho, que me deu um panorama da importância e do tamanho da economia solidária e do cooperativismo no país: cerca de 7% a 8% do PIB nacional. Essa economia mostra-se, assim, cada vez mais uma saída eficaz para a superação do ciclo de vulnerabilidade da população, em especial em tempos de crise como o que enfrentamos agora.
Com as novas gestões municipais se iniciando neste mês de janeiro, é tempo de ficarmos de olho para garantir a manutenção de políticas públicas voltadas ao incentivo e ao fortalecimento dessa economia, em especial no campo local. Mas também em nível estadual e federal.
Em 2017, continuarei trazendo para este blog experiências e potencialidades desse jeito diferente de produzir e de estar no mundo, que troca a competição pela cooperação e pela inteligência coletiva. E espero cada vez mais contar com a sua companhia!
Foto: Zeiss Microscopy/Creative Commons