A Amazônia teve um balanço trágico ao final de 2022. Com o quinto recorde anual consecutivo no desmatamento, entre janeiro e dezembro do ano passado foram devastados 10.573 km² de floresta, a maior destruição em 15 anos. Os dados são Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)*, que monitora a região desde 2008.
Para se ter uma ideia da dimensão da devastação é como se quase 3 mil campos de futebol tivessem sido aniquilados por dia.
Entre 2019 e 2022, anos em que o ex-presidente Jair Bolsonaro esteve no poder, a Amazônia perdeu 35.193 km², uma área que supera o tamanho de dois estados: Sergipe e Alagoas.
“Esperamos que esse tenha sido o último recorde de desmatamento reportado pelo nosso sistema de monitoramento por satélites, já que o novo governo tem prometido dar prioridade à proteção da Amazônia. Mas, para que isso aconteça, é preciso que a gestão busque a máxima efetividade nas medidas de combate à devastação, como algumas já anunciadas de volta da demarcação de terras indígenas, de reestruturação dos órgãos de fiscalização e de incentivo à geração de renda com a floresta em pé”, afirma Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.
Dezembro foi o mês que registrou o mais alto índice de desmatamento em 2022, em relação ao mesmo período do ano anterior. Foram destruídos 287 km² de vegetação. Os especialistas do instituto acreditam que houve uma corrida desenfreada de criminosos para abrir clareiras e aumentar a exploração fundiária e expandir os garimpos ilegais antes que o novo governo assumisse em janeiro.
Logo após ganhar as eleições, Lula anunciou que irá lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. Além disso, nos primeiros dias depois da posse, o presidente já assinou atos que restabelecem o Fundo Amazônia e o combate ao desmatamento e ao garimpo, entre outras medidas.
Último ano do governo Bolsonaro teve o mais alto índice de desmatamento desde 2008
Ainda de acordo com o Imazon, 80% das áreas desmatadas em 2022 eram de jurisdição do governo federal. Já as Unidades de Conservação (UCs) estaduais apresentaram uma alta de 8% no desmatamento.
Os estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso seguem como os maiores desmatadores. Juntos eles concentram nada menos do que 76% da área destruída.
A APA Triunfo do Xingu e a Terra Indígena Apyterewa, ambas no Pará, são de longe as mais impactadas pelo desmate.
“Estamos alertando sobre o crescimento do desmatamento na Amacro [região do Amazonas na divisa com o Acre e Rondônia] pelo menos desde 2019, porém não foram adotadas políticas públicas eficientes de combate à derrubada na região, assim como em toda a Amazônia, resultando nesses altos números de destruição em 2022”, lamenta Carlos Souza Jr., coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon.
O Pará registrou 37% do total do desmatamento em 2022, seguido pelo Amazonas (24%)
e Mato Grosso (15%)
*O Imazon é um instituto nacional de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, fundado em Belém há 29 anos. Através do sofisticado Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), a organização realiza, há mais de uma década, o trabalho de monitoramento e divulgação de dados sobre o desmatamento e degradação da Amazônia Legal, fornecendo mensalmente alertas independentes e transparentes para orientar mudanças de comportamento que resultem em reduções significativas da destruição das florestas em prol de um desenvolvimento sustentável
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Foto de abertura: Christian Braga/Greenpeace