Seu olhar mareja melancolia. Seu corpo, pausado no andar, emana uma história carregada de dor e lembranças castigadas por torturas, com o peso ensurdecedor dos portões de aço ecoando nos ouvidos. A cada passo adentrando naqueles corredores e ao som de sua voz fraca, uma sensação de desconforto e indignação toma conta de nossas almas.
Não é possível se manter imune aos sentimentos, ao inevitável pensamento do que é viver o terror em plena Terra. Este senhor da etnia Zulu, com seus 52 anos e aparentando muito mais, chama-se Thulani Mabaso. Um preso político na África do Sul, no regime do Apartheid.
Ele passou três anos numa prisão em Johanesburgo até ser transferido para a Ilha Robben onde, com apenas 19 anos, viu sua juventude ser gradeada nos longos oito anos seguintes. Suficientes para deixarem marcas físicas e psicológicas irreparáveis.
E por mais que tentemos entender o que está por trás daquelas explicações, como foi conviver com Nelson Mandela, o que foi vivido entre aquelas paredes vai além dos limites humanos de compreensão. Se é que, depois de conhecer o mínimo da história daquele homem e de todos que viveram naquela pequena ilha, seja possível definir os limites para a maldade humana.
Essa foto foi feita na semana passada na Ilha Robben, onde ficava o presídio em que encarceraram Mandela e Mabaso, no qual este trabalha como guia. E foi lá que encontrei a história deste senhor.
Hoje, não me considero apenas um fotógrafo de natureza ou vida selvagem. Virei um curioso pela vida, por isso talvez tenha desviado do destino original desta viagem naquele dia.
Ao longo de toda a visita, uma dor na boca do estômago me acompanhou. Fiquei focado no olhar daquele senhor, tentando imaginar o que seria, para ele, caminhar por aqueles corredores todos os dias. A única foto que consegui fazer dele é esta que publico esta semana. Nela, está registrada a melancolia.