Fiz esta fotografia para uma reportagem no Rio Grande do Sul sobre a “grande restinga”. Geograficamente é a península de formação geológica recente que separa a Lagoa do Peixe do Oceano Atlântico. Tem início ao sul de Tramandaí e se estende para o sul por aproximadamente 280 km até a barra da Lago do Peixe, em São José do Norte.
A reportagem abordou os vários aspectos da região, desde o modo de vida da população, economia, costumes e também as questões naturais da restinga. Produzi tudo que precisava para ilustrar a reportagem. Porém não tinha uma imagem forte em página dupla, para abrir a reportagem, que pudesse representar aquela região com tantas peculiaridades, como: relevo, gente hospitaleira e trabalhadora, paisagens muito amplas e um ar de isolamento.
Eu tinha em mente uma fotografia que desse a ideia de imensidão, que fosse simples e forte o suficiente para emplacar a foto de abertura. Fui com o nosso guia e repórter para o oeste para fotografar o pôr-do-sol na Lagoa do Peixe. Chegando lá, mesmo com a beleza do que eu estava vendo, fiquei frustrado. Parecia um mar! Fiz algumas fotos e sugeri voltarmos. O sol prometia se por de uma forma magistral e eu não tinha nada!! O sol já estava baixo e eu olhava pela janela do carro, tentando achar algo que valasse a pena. Era o último dia, nos seus últimos momentos, durante o trajeto de volta à Mostardas, fiquei formando imagens baseado no que eu via e pensando o que daria uma foto de abertura.
De repente a imagem que eu procurava se formou na minha frente. Lá longe vi uma figueira, um jerivá e vegetação de restinga, elementos típicos da região. Para completar, o sol estava na posição correta. Paramos o carro e saí correndo, montei o tripé com minha tele com acessórios para aproximar bem o sol e as árvores. Com a teleobjetiva e duplicador, a ampliação foi de 24 vezes e sol se movia rapidamente no visor da câmera. Fiz várias fotos até o Astro Rei se esconder totalmente.
As árvores e o chão parecem recortes de papel preto e o tom monocromático do céu laranja deu força para o imenso sol amarelo, criando um ar dramático. O resultado foi uma foto simples e ao mesmo tempo com muita força como eu queria. O elementos da foto transmitem o isolamento e uma noção de grandes distâncias que foram determinantes na formação da cultura e da história da região.
Foto: Zig Koch