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A foto que eu nunca fiz

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Dentre os vários animais brasileiros que ainda não fotografei de forma satisfatória, destaca-se o lobo-guará. Animal característico do Cerrado, onde vivo, não é bicho extremamente raro, mas também não vive dando mole por aí. Então, se o fotógrafo vacilar e não aproveitar as poucas chances, talvez nunca consiga uma boa imagem da espécie – como pode ter sido o meu caso…

Há alguns anos surgiram comentários sobre um lobo-guará que estava se tornando frequentador habitual do aeroporto de Bonito, a poucos quilômetros de casa. Segundo os vigilantes do lugar, ele procurava nas lixeiras restos de comida provenientes do serviço de bordo oferecido nos aviões, e estava ficando relativamente manso. Eu me interessei pela situação, mas como parecia fácil demais – um animal calmo, com padrão de comportamento previsível, pertinho de casa – cometi um dos grandes pecados que um fotógrafo de natureza não pode cometer: deixar para “amanhã”.

Cada vez que alguém comentava comigo sobre o assunto eu pensava em ir conferir, mas as tarefas do escritório ou outras atribuições sempre me faziam adiar a visita. Até que um dia eu finalmente decidi tentar. Chegando no aeroporto interpelei o vigilante: “rapaz”, disse ele, “o lobo estava mesmo bem tranquilão andando por aqui todo dia, olha só as fotos que eu fiz!”, mostrando-me ótimas imagens do animal, feitas com um celular daqueles mais antigos, de câmera muito limitada. E em seguida veio o balde de água fria: “mas depois que começaram a gradear com trator os campos onde ele cruzava, o bicho sumiu. Acho que se assustou com tanto movimento…”.

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Frustrado, agradeci e voltei para trás, deixando meu contato para ele me ligar caso tivesse novidades.

Tempos depois fui contratado por Kevin Schafer, fotógrafo da National Geographic, para acompanhá-lo por uns dias aqui em Bonito. Os relatos de que o lobo havia voltado estavam pipocando novamente e achamos que valeria a pena dedicar um tempo para tentar as fotos. Então fizemos plantões fotográficos no pátio do aeroporto durante dois dias, enquanto éramos curiosamente observados pelos vigias de todos os turnos.

Resumo da história: os adultos jamais deram as caras, mas um filhotão apareceu e nos permitiu alguns poucos segundos de chances de fotografá-lo com uma luz excelente de final de tarde. Já era alguma coisa, mas Kevin e eu fomos embora meio decepcionados com a ideia de poder ter feito fotos de toda a família junta!

No dia seguinte, Kevin embarcou de volta para sua casa nos Estados Unidos e eu continuo aqui, imaginando o dia em que finalmente encontrarei com a família de lobos do aeroporto de Bonito e conseguirei fazer as fotos com as quais vivo sonhando…

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