Esta é a frase que melhor resume a mensagem do Papa Francisco aos participantes do Encontro Internacional Ciência para a Paz, realizado em 2 e 3 de julho pela Pontifícia Academia de Ciências.
(Ontem, 4/7, o Papa passou por uma cirurgia no intestino, e, segundo o Vaticano, se recupera bem, sem ajuda de aparelhos. Deve ficar uma semana internado no hospital)
O evento reuniu cientistas, investigadores e acadêmicos católicos de diferentes disciplinas para incentivar a ciência como promotora da justiça, do desenvolvimento, da solidariedade, da paz e da resolução de conflitos, além do “fomento da interação entre fé e razão e o incentivo ao diálogo entre a ciência e os valores espirituais, culturais, filosóficos e religiosos”.
O pontífice fez um apelo para que comecemos a construir juntos “um mundo pós-pandêmico melhor, sempre buscando novas formas de colaboração” e classificou o encontro como “um grande presente de esperança para a humanidade”.
“Nunca antes a necessidade de um renascimento da pesquisa científica foi tão agudamente sentida a fim de responder aos desafios da sociedade contemporânea. E estou feliz que seja a comunidade diocesana de Teramo a promover este encontro, demonstrando assim que não pode e não deve haver oposição entre fé e ciência“.
Utilizando a Encíclica Fratelli Tutti como base de seu discurso, ele lembrou que “é urgente conhecer a realidade para construirmos juntos” e convidou os cientistas presentes a colocarem o resultado de suas pesquisas científicas a serviço da humanidade:
“Para que o desejo de conhecimento que se esconde no coração de cada homem e de cada mulher cresça e se desenvolva, a investigação científica deve pôr os seus conhecimentos ao serviço de todos, procurando sempre novas formas de colaboração, de intercâmbio de resultados e de construção de redes”.
Também ressaltou que é um risco pensar que o avanço científico “é a única lente possível para ver um determinado aspecto da vida, da sociedade e do mundo”, nem pode ser “autossuficiente” e que, devido à crise sanitária pela qual passa o mundo, os cientistas devem “repensar as perspectivas de prevenção, tratamento e organização da saúde, levando em consideração as implicações antropológicas vinculadas à socialidade e à qualidade das relações entre os familiares. e, acima de tudo, entre gerações”.
O Papa Francisco destacou também que a pluralidade de conhecimentos é essencial para o “crescimento de uma nova cultura capaz de construir uma sociedade” que promova “a dignidade e o desenvolvimento de cada homem e e de cada mulher”.
Mais: disse que os cientistas devem contribuir para a construção de “um novo vínculo social”, que aproxime a ciência de toda a comunidade – local e internacional – e que apenas juntos é possível “superar todos os conflitos”. E acrescentou: “A ciência é um grande recurso para construir a paz!”.
E pediu aos especialistas que acompanhem a formação das novas gerações. Veja que lindo:
“O Mestre também se deixa buscar: ele infunde em todos a certeza de que, quando se busca com sinceridade, se encontra a verdade. A era em mudança precisa de novos discípulos de conhecimento, e vocês, queridos cientistas, são os professores de uma nova geração de pacificadores”.
Discurso na íntegra, em texto e vídeo
A seguir, leia o texto do discurso do Papa Francisco na íntegra ou assista ao vídeo com sua mensagem, em italiano:
“Desejo exprimir a minha gratidão aos organizadores do encontro “Ciência para a Paz” por ocasião do Jubileu de São Gabriel (de Nossa Senhora das Dores), cujo santuário está situado nas encostas do Gran Sasso, lar do Laboratório Nacional de Física Nuclear.
Saúdo as autoridades acadêmicas e científicas, os convidados das instituições nacionais e europeias e todos os homens e mulheres empenhados na investigação científica.
Entre estes, gostaria de recordar o Professor Antonino Zichichi, Presidente da Federação Mundial de Cientistas – agraciado nesta ocasião com a mais alta honraria da Universidade de Teramo – que continua a dedicar a sua vida ao desenvolvimento da ciência e à educação de novas gerações.
Caros ilustres cientistas, o vosso encontro é um grande presente de esperança para a humanidade. Nunca antes a necessidade de um renascimento da pesquisa científica foi tão agudamente sentida a fim de responder aos desafios da sociedade contemporânea. E estou feliz que seja a comunidade diocesana de Teramo que está promovendo este encontro, demonstrando assim que não pode e não deve haver oposição entre fé e ciência.
Como recordei na Encíclica Fratelli Tutti, é urgente conhecer a realidade para construirmos juntos (cf. 204). Para alimentar e desenvolver o desejo de conhecimento que está escondido no coração de cada homem e mulher, a pesquisa científica deve colocar seus resultados a serviço de todos, buscando sempre novas formas de colaboração, compartilhando resultados e construindo redes.
Além disso, continuei na Encíclica, não devemos descurar o “risco de que um único avanço científico seja visto como a única lente possível para ver um determinado aspecto da vida, da sociedade e do mundo” (ibid.).
A vivência da emergência sanitária ainda mais, e em alguns aspectos com maior urgência, tem levado o mundo da ciência a repensar as perspectivas de prevenção, tratamento e organização da saúde, levando em conta as implicações antropológicas ligadas à socialidade e à qualidade das relações. entre familiares e, sobretudo, entre gerações.
Nenhum conhecimento científico deve ficar sozinho e acreditar que é autossuficiente. A realidade histórica torna-se cada vez mais uma realidade única (cf. ibid.) E deve ser servida na pluralidade de saberes, que na sua especificidade contribua para o crescimento de uma nova cultura capaz de construir a sociedade promovendo a dignidade e o desenvolvimento de cada homem e mulher.
Perante os novos desafios, a vós, queridos amigos da ciência, é confiada a tarefa de testemunhar a possibilidade de construir um novo vínculo social, comprometendo-se a fazer a investigação científica junto de toda a comunidade, do local ao internacional. um, e mostrando que juntos é possível superar todos os conflitos.
A ciência é um grande recurso para construir a paz!
Peço-lhe que acompanhe a formação das novas gerações, ensinando-as a não temer o esforço da pesquisa. O Mestre também se deixa buscar: infunde em todos a certeza de que, quando se busca com honestidade, se encontra a verdade. A era em mudança precisa de novos discípulos de conhecimento, e vocês, queridos cientistas, são os professores de uma nova geração de pacificadores.
Garanto-vos que estou perto de vós e toda a Igreja está perto de vós, com oração e encorajamento”.
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Foto: Reprodução do vídeo do Vaticano