A fotografia de natureza precisa de apoio


Acredito que a maioria dos colegas da fotografia de natureza (talvez todos!), já passaram por um desconforto comum: justamente naquele momento em que você está desfrutando seu momento de comunhão com o ambiente, com o processo criativo sendo turbinado por todas as sensações incríveis que estar em uma área natural protegida proporciona, aparece, sabe-se lá de onde, uma figura sisuda falando que não é permitido fotografar ali com uma câmera profissional.

Primeiramente, um esclarecimento importante: por mais que os fabricantes tentem convencer os consumidores e a sociedade disso, as câmeras não são profissionais. Pelo menos, nunca conheci alguma que tivesse carteira assinada e recebesse férias remuneradas. Ou seja, qualquer um que esteja disposto a investir, pode ter um super equipamento fotográfico, e mesmo assim continuar sendo amador. E também já li sobre casos de fotógrafos que ganham um bocado de dinheiro, fazendo fotografias com – olha só! – seu telefone celular.

Enfim, nos tempos atuais, a fotografia (seja ela com qual equipamento for), se tornou um importante complemento das experiências de grande parte dos viajantes. E o que irá acontecer com as imagens feitas, muitas vezes está além do controle e das escolhas do próprio fotógrafo. Por conta de todo esse contexto, ao meu ver, se torna um desserviço ao meio ambiente que parte dos limitados recursos das áreas naturais protegidas seja destinado ao controle daqueles que querem, acima de tudo, registrar e divulgar as belezas da natureza.

Em alguns lugares, as restrições são impostas de outras formas. A foto deste post, por exemplo, foi feita durante uma atividade normal de visitação na Gruta do Lago Azul, em Bonito. Quem já foi lá sabe que, mesmo considerando que o lugar por onde os visitantes caminham é de concreto, a regra é: proibido usar tripé! E para quem já fotografou cavernas, sabe que o resultado prático dessa regra é: as fotos ficarão ruins.

Mas a criatividade está aí para servir também à fotografia de natureza. Então, simplesmente pensei que o que, de fato, precisamos é que a câmera fique paradinha durante o tempo necessário para exposição. E como mochilas não são proibidas durante o passeio e a minha é um trambolho de grande, resolvi substituir o tripé por ela.

No local de fazer a foto, coloquei a mochila no chão, apoiei a câmera nela, usei o LCD dobrável para compor (e, assim, evitar o mico de ter que deitar no chão para isso), calculei a exposição e, antes de disparar, olhei para os visitantes em volta com um sorriso amarelo e avisei que precisaria de 10 segundos parado ali. Felizmente, todos foram solidários e a imagem pode ser feita.

Seria mais fácil, a composição sairia melhor, não causaria mais impactos à caverna e, possivelmente, incomodaria menos os outros visitantes se pudesse fazer a foto com um tripé. Adoraria estar aqui fazendo um post apenas para falar das belezas das áreas naturais protegidas. Mas esse é um assunto recorrente, e é sempre bom lembrar que, de diversas maneiras, a fotografia de natureza precisa de apoio.

Ironias da vida
Escrevo esse post durante um voo, e o monitor em minha frente passa fotos de atrativos turísticos do Brasil. Entre elas, uma foto da Gruta do Lago Azul que, particularmente, achei bem ruinzinha. Não culpo o fotógrafo, pois ele deve tê-la feito sem tripé, tentando não parecer profissional.

Agora, os dados da foto:
– Câmera D500 + objetiva fisheye 10.5mm f/2.8
– ISO 100 + abertura f/2.8 + tempo de exposição de 10s
– Mochila Tamrac D32, fazendo o papel de tripé.

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Marcos Amend

A natureza sempre foi uma paixão para Marcos Amend que, ainda adolescente, passou a observá-la também pelas lentes de uma máquina fotográfica. Assim, aliando o talento fotográfico à conservação do meio ambiente, há 25 anos viaja do Norte ao Sul do Brasil e pelos cantos mais remotos do mundo. Colabora com livros, revistas e bancos de imagens e realiza expedições, cursos e workshops de fotografia outdoor.