Um dos grandes gargalos para o estabelecimento de cadeias produtivas para os produtos florestais amazônicos não-madeireiros é a comercialização. Esse é um elo muito importante, porque garante renda para as comunidades extrativistas, estimulando os amazônidas a manterem a floresta em pé e fomentando a percepção real de que é possível gerar renda desse modo.
Pois, pensando nisso, e de olho no mercado externo, duas mulheres – uma economista e outra com formação em relações internacionais – perceberam a oportunidade de desenvolver essa ponta da cadeia. Nasceu, assim, a 100% Amazônia, exportadora comercial temática de produtos florestais não-madeireiros, de base renovável, calcada no relacionamento próximo com as comunidades fornecedoras e no comércio justo.
Fernanda Stefani e Joziane Alves buscam resolver esse gargalo, promovendo acesso a mercados, respeitando o calendário produtivo e o saber da floresta, criando relações horizontais com as comunidades e apoiando capacitações técnicas.
“Os produtores têm o conhecimento sobre a manutenção do ecossistema e nós temos os requisitos técnicos do que o mercado precisa. Temos a cadeia de distribuição e a expertise em comércio internacional”, diz Fernanda.
Hoje, o negócio, que tem certificação ISO e processos de gestão bem solidificados, exporta produtos brasileiros para 55 países, incluindo açaí e subprodutos, polpas congeladas, óleos e manteigas cosméticas, respeitando a cultura local e gerando renda para comunidades tradicionais e indígenas. Assim, a 100% Amazônia pode ser considerada também um negócio de impacto socioambiental.
Sementes e frutas são transformadas em óleos, purês, sucos clarificados, essências, extratos, entre outros. A 100% Amazônia trabalha em quatro projetos com as comunidades tradicionais da floresta, envolvendo milhares de pessoas: frutas (de onde saem ingredientes como purês, polpas, pós liofilizados, sucos clarificados e extratos, produzidos a partir de açaí, cupuaçu, acerola, uxi, bacaba, taperebá, patauá e tucumã); óleos (de sementes de buriti, andiroba, copaíba, ucuuba, tucumã e castanha do Brasil); biojóias (produtos de base florestal desenvolvidos pelas comunidades locais, com consultoria da 100% Amazônia aos artesãos, promovendo ainda desenvolvimento de coleções e exportação do produto final); e biomassa (produzida a partir da secagem de caroços de açaí).
A empresa é um dos negócios selecionados pelo Programa de Aceleração de Negócios Amazônicos, promovido pela Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), junto com outros 14 negócios. O Programa oferece oficinas e workshops, mentorias, assessoria jurídica e contábil e bolsas de estudo, buscando fortalecer os modelos de negócio.
A PPA reúne um grupo de empresas em busca de soluções inovadoras para o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O incentivo a outros modos de desenvolvimento, menos predatórios e com a valorização das comunidades, sua remuneração justa e o entendimento de que a floresta pode valer mais de pé estão entre as premissas desse trabalho, e de todos os negócios de impacto selecionados pelo Programa de Aceleração.
Uma das grandes chaves para a Amazônia permanecer de pé inclui incentivar um desenvolvimento em que as pessoas, as comunidades, estejam no centro das estratégias, sejam adequadamente remuneradas e valorizadas em suas atividades extrativistas, agrícolas e de beneficiamento de matérias primas. São elas que vão ajudar na preservação da floresta.
Sigo acompanhando esse processo. A PPA deve promover uma nova chamada de negócios de impacto amazônicos neste ano, continuando o processo de mapear esse tipo de negócio e incentivar seu desenvolvimento. Trarei notícias, aqui no blog.
Foto: Divulgação/100% Amazônia