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Mais de três meses após chegada ao Brasil, girafas trazidas da África pelo Bioparque do Rio continuam confinadas em baias

Mais de três meses após chegarem ao Brasil, girafas trazidas da África pelo Bioparque do Rio continuam em confinamento

Foi em novembro do ano passado que 18 girafas importadas da África do Sul chegaram ao Brasil. Os animais foram comprados pelo Bioparque do Rio de Janeiro, um dos empreendimentos turísticos do Grupo Cataratas no país. Após o desembarque, elas foram levadas para recintos no Resort Safari Portobello, em Mangaratiba, no sul do estado.

A aquisição dos animais só veio a público porque no dia 14 de dezembro, seis delas fugiram do espaço onde estavam tomando sol, quebrando cercas da propriedade. Durante a noite, elas foram recapturadas, mas três morreram (leia mais aqui). A necropsia revelou que a causa dos óbitos foi miopatia, provocada por estresse extremo. O laudo indicou ainda a presença de edemas e enfisemas pulmonares. Dois dos três animais apresentavam hematomas no peitoral e um deles tinha um coágulo na base do pescoço.

O caso ganhou atenção nacional e acirrou-se o debate sobre a importação de animais selvagens para serem mantidos em cativeiro. O Bioparque alega que a vinda das girafas tinha como objetivo o desenvolvimento de um “programa para o manejo ex-situ da espécie no Brasil”. O termo ex-situ é usado para projetos realizados fora do habitat original.

Apesar de o Bioparque garantir que obteve todos os documentos necessários e exigidos para a importação das girafas, o parecer feito por um fiscal do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que esteve em Mangaratiba, “a autorização da importação dos animais foi negligente, incompetente ou ingênua. E o analista ambiental que concedeu a licença desconsiderou a legislação vigente, inclusive a da própria instituição”.

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E embora a Polícia Federal tenha aberto uma investigação sobre o caso, o Ministério Público Federal recomendado, no início de fevereiro, a devolução imediata das girafas à África do Sul e à vida livre, e no final de janeiro a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, da 7ª Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro, determinado que as 15 girafas sobreviventes fossem transferidas, em até 48 horas, para baias maiores, elas continuam no mesmo lugar: em recintos com cerca de 30 m2, com três indivíduos em cada um deles.

Vale lembrar que conforme normas do Ibama, para duas girafas são necessários 600m2, além de enriquecimento ambiental, como vegetação abrigo.

Mas por que até agora a ordem da juíza Neusa Regina Leite não foi cumprida?

De acordo com notas divulgadas pela assessoria de imprensa do Bioparque, “a área total das girafas no Portobello Safari é de aproximadamente 44mil m²”. E existiriam quatro estágios para a adaptação dos animais, mas que não possuem uma duração pré-estabelecida:

1) cambiamento (ambiente controlado para o manejo),
2) acesso ao solário,
3) recinto de manejo e 4) recinto de 44mil m².

“A evolução dos estágios de adaptação dos animais leva em consideração o seu comportamento adaptativo e alinhamento com os técnicos do IBAMA e INEA”, diz a área de comunicação do Bioparque.

Outro ponto que é importante ser destacado é que o Grupo Cataratas não é proprietários somente do Bioparque Rio. A companhia mesmo se intitula “a principal concessionária de Turismo Sustentável do Brasil”, pois administra também o Parque das Cataratas, em Foz do Iguaçu, o Centro de Visitantes Paineiras, aos pés do Cristo Redentor, o AquaRio, o Marco das Três Fronteiras e toda a área de visitação pública do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.

Sofrimento em cativeiro

Recentemente, um representante da Ampara Silvestre, uma das organizações que entrou com uma ação na justiça do Rio solicitando maiores esclarecimentos sobre a morte das girafas e também, em relação ao processo de importação, esteve no Resort Safari Portobello, em Mangaratiba.

Em apenas 30 minutos de permanência nas baias de confinamento, o gerente de pesquisa e biólogo, Maurício Forlani, observou um comportamento clássico que revela o elevado nível de estresse nos indivíduos, o chamado “cribbing” – mordedura de berço ou mordedura de grades. Esse comportamento é reconhecido como uma forma de expressar elevada tensão, muitas vezes, acompanhada de dores e medo.

“A suposta estratégia de adaptação a que esses animais são submetidos afetam severamente o seu bem-estar físico e psicológico. Segundo especialistas em manejo de vida selvagem e bem-estar animal, as girafas estão passando por um processo onde o espírito livre do animal é aniquilado”, denunciou as Ampara Silvestre em suas redes sociais. “As consequências dessa opressão forçada provocam extremo sofrimento, uma vez que o animal é impedido de realizar uma série de atividades que faziam parte de seu repertório comportamental natural, havendo assim uma perda significativa do seu envolvimento com o meio ambiente, gerando dificuldades de adaptação, dores, sequelas psicológicas, comportamentos disfuncionais e uma ampla gama de doenças crônicas”.

Se você também acredita que animais de vida livre não devem ser capturados, comercializados e mantidos em cativeiro – girafas são acostumadas a andar até 80 km por dia nas savanas africanas -, assine já a petição online, que cobra ainda uma posição da juíza Neusa Regina Leite.

Acesse o link da petição aqui e compartilhe em suas redes sociais!

Foto: Carol M. Highsmith on @rawpixel

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Sandra
Sandra
2 anos atrás

Não somente o estresse. A privação de liberdade. A falta de um sentido para a vida. A silenciosa aceitação das vítimas. A resignada apatia dos enjaulados. O desamor. O se deixar aniquilar um pouco a cada dia. O desalento dos prisioneiros e a inércia dos condenados. Não apenas o inferno e o desespero de respirar nele. Mas a burocracia é que pode mata-las mais depressa.

Helton Klein
Helton Klein
2 anos atrás

E como estão as girafas hoje? Dia 15 de julho… Tem juiz no Brasil pensando em proibir a exposição da bandeira nacional … Mas não tem juiz competente/ preocupado com as girafas? E com tantas outras coisas realmente NECESSÁRIAS para o país?!

Pq não se acham notícias atuais sobre essas girafas?

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