No fim de 2019, conheci a proposta de Maria Eugênia e João Terra para mudar a chave sobre o imaginário que grande parte dos brasileiros e brasileiras têm em relação à Amazônia: expedições que revelam dados e toda a potência da bioeconomia da floresta e, ao mesmo tempo, proporcionam vivências envolvendo o Rio Negro e suas populações.
Academia Amazônia Ensina (AAE) é o nome da empresa, (Original Trade, empresa incubada no INPA), que gera impacto positivo para a floresta e seus povos. O público-alvo são estudantes, mas a AAE já promoveu expedições para empreendedores e investidores interessados nesse tipo de empreendimento.
Para promover essa aproximação, a Academia usa a ciência e o contato com a cultura e os saberes dos amazônidas.
As Expedições Amazônia 21, como são conhecidas, oferecem formação imersiva para difusão e debate de temas relacionados à sustentabilidade, e busca preparar as pessoas para os desafios econômicos, sociais e ecológicos do século 21, tendo a Amazônia como espaço de pesquisa, vivência e aprendizado.
Cada expedição é composta de dois momentos. O primeiro acontece na cidade de Manaus, e inclui visitas a instituições estratégicas e acesso a profissionais de diversas áreas. No segundo, acontece uma vivência de navegação, com visitas a áreas de preservação e comunidades ribeirinhas, em atividades de vivèncias sensoriais, o que contribui para um entendimento mais abrangente da região.
Em 2019, duas expedições voltadas a estudantes foram realizadas. No início deste ano, aconteceram outras duas: uma voltada a startups e outra personalizada para uma comitiva de investidores de outros países, interessados em negócios de impacto positivo na região.
“Temos a sensação de dever cumprido quando percebemos a troca profunda e verdadeira que as pessoas têm quando estão aqui conosco, seja no campo acadêmico, seja no campo holístico, sensorial, na conexão com a natureza e com as comunidades. E é com certeza uma sementinha que plantamos, pensando em uma sociedade melhor e envolvendo pessoas que, no futuro, podem estar em posições de decisão no país”, avalia Maria Eugenia Rocha Tezza, coordenadora executiva da AAE.
Pandemia: tempo de adaptação
Em setembro de 2020, a Academia Amazônia Ensina completou dois anos de existência e sua atuação tem sido duramente afetada pelo isolamento social trazido pela pandemia da Covid-19. Mas isso não impediu que o negócio avançasse em outras frentes como o Ensino à Distância (EAD) e buscasse soluções para as comunidades ribeirinhas também afetadas pela paralisação das expedições presenciais.
Enquanto não é possível retomar as imersões in loco, a AAE trabalha no desenvolvimento de um curso à distância sobre a Amazônia, focado em oportunidades da bioeconomia.
Cinco encontros virtuais acontecerão a cada edição do curso, dos quais dois serão seminários com a participação de profissionais reconhecidos em diferentes campos de estudo e atuação voltados à floresta.
“Queremos oferecer muitos dados, informações, conhecimento sobre a Amazônia. Estatísticas, séries históricas de desmatamento, de crescimento e decrescimento de produção, da economia florestal, da agropecuária, da mineração, enfim. Mas o cerne do curso, além de oferecer informações para entendimento do quadro da Amazônia, é pensar oportunidades da bioeconomia e modelagem de negócios, com um olhar de conservação no longo prazo”, diz João Tezza, um dos idealizadores..
A atividade de Ensino à Distância (EAD), que já estava em desenvolvimento pela AAE, se acelerou com a pandemia e deve se concretizar nos próximos meses.
Ao mesmo tempo, a AAE avança no planejamento e na preparação da próxima Expedição Amazônia 21, presencial, programada para julho de 2021, se houver segurança para deslocamento.
“Estamos trabalhando também em um planejamento paralelo, caso ainda existam algumas restrições. Estaremos preparados para um nível de rigor bem alto em relação à segurança sanitária da expedição”, relata Tezza.
Do mesmo modo que a AAE precisou suspender as expedições presenciais, as comunidades visitadas pelos expedicionários e impactadas positivamente pela presença deles, também pararam de receber visitantes e de comercializar a produção artesanal, serviços de guia e alimentação.
A AAE trabalha também em formas de ajudar essas comunidades. Uma das atividades previstas ainda para este ano é promover seções virtuais do filme O Rio Negro são as Pessoas, documentário que dá voz a ribeirinhos da região, dirigido por João e Juliana Barros em 2019, além de lives envolvendo personagens e realizadores do filme.
A renda gerada com a exibição será convertida em ações junto a essas comunidades, buscando auxiliar no desenho e no desenvolvimento das atividades comerciais já exercidas de modo mais ou menos informal, em formações voltadas ao empreendedorismo e até no desenvolvimento de novos negócios, que possam gerar renda para os ribeirinhos e ribeirinhas.
Aceleração e jornada digital
Um dos 15 negócios selecionados para a turma de 2020 do Programa de Aceleração e Investimento de Impacto da Plataforma Parceiros pela Amazônia, a AAE participa, assim como os outros 14 empreendimentos, de atividades virtuais.
Apenas um encontro presencial, de três previstos para o ano, foi realizado, no final de fevereiro. Os demais foram convertidos em jornada digital, que vem se desenvolvendo ao longo dos últimos meses e segue até o final do ano.
Para João Tezza, o Programa é essencial para novos negócios que carregam “esse DNA da transformação de paradigma”.
“Não se trata de abrir negócios com fórmulas que estão sendo usadas há cem anos, mais ou menos na mesma lógica. Essas startups, apoiadas pelo Programa na maioria dos casos, são negócios que enfrentam dificuldades adicionais porque estão rompendo os limites desse paradigma passado. Então é fundamental que tenham uma estrutura de suporte, de apoio, para que superem essas dificuldades no início”.
Deixo, aqui, um pouco da exuberância e abrangência do trabalho da Academia Amazônia Ensina e seu impacto junto aos expedicionários:
Edição: Mônica Nunes
Foto: Divulgação