Durante uma de nossas oficinas para brincar com a natureza, apareceu um pequeno inseto, bastante parecido com um besouro. Duas meninas estavam próximas dele. Uma se assustou e correu para perto da mãe. A outra, que já estava junto da mãe, arregalou os olhos, começou a se aproximar, o movimento de suas mãos demonstravam que ela queria tocar no bichinho.
A menina que correu para a mãe, recebeu um abraço e um recado: “É só não tocar, que está tudo bem”. Ela então pegou uma folha de papel que estava no chão e se aproximou do pequeno besouro tentando para pegá-lo. Ana Carol (uma das autoras deste blog) pegou outra folha e, junto com a menina, conseguiu fazer com que ele subisse nelas.
O inseto começou a andar sobre uma das folhas, muito tranquilo. E, depois, passava de uma para a outra. Ele chegou à mão da Ana Carol, por onde andou mais um pouco. Quando caiu no chão, andou em direção à menina que ansiava por tocá-lo. A mãe pegou uma pedra e colocou perto dele. O bicho subiu e todos os presentes puseram-se a observá-lo e a se encantar com seus movimentos.
Quando o interesse acabou, o besourinho voltou ao chão e passeou livremente pelo espaço, sem incomodar ninguém. Cada um no seu canto, voltado para a sua atividade, o seu brincar, o seu pesquisar.
De repente, chega um novo menino na sala. Ao ver o besouro, num segundo pegou o primeiro objeto ao seu lado e atirou. Acertou em cheio. “Naaaaaaaoooo!”, gritou Ana Carol, que não conseguiu se conter. A mãe que estava próxima da cena disse: “Estávamos até agora brincando com ele. Ele não fez nada de mau pra você. Você não precisava matá-lo”.
Para respaldar sua atitude, o menino disse imediatamente: “Mas eu não gosto de insetos!”. Uma outra mãe próxima respondeu: “Não precisa gostar, mas pode deixar ele seguir a vida dele. A gente brinca com o que quer e não brinca com o que não quer. Todo mundo pode ficar bem, cada um no seu canto”.
Puxa, que situação! Ficou tão evidente o quanto essa agressividade foi desnecessária. Para que matar um pequeno animal que estava passeando tranquilo e ainda participando da brincadeira das meninas?
Claro, o menino agiu de acordo com o mundo que é apresentado para ele; observa com atenção e manifesta o aprendizado nessas horas. É tão frequente as pessoas se expressarem afirmando que, para mudar o mundo, temos que ensinar as crianças sobre o mundo que gostaríamos de viver. No entanto, se os adultos não refletirem e passarem a ter atitudes mais coerentes e consequentes, as crianças continuarão a imitá-los.
Parece que é isso que temos vivido e o mundo está ficando cada vez pior, a extinção de espécies de origem antrópica (ou seja, realizada por nós, humanos) nunca foi tão grande. A violência e a agressividade entre as pessoas está cada vez maior também. A intolerância tem crescido em nossa sociedade.
De que adianta se preocupar com a segurança se as atitudes violentas e impulsivas são estimuladas e até ensinadas desde a tenra infância?
Para mudar essa realidade, precisamos ter uma compreensão mais profunda sobre a natureza humana e passar a ser aquilo que desejamos ver no mundo, relembrando Gandhi, o grande estadista e pensador indiano.
Foto: Renata Stort
Magnífico texto! A singeleza desse exemplo nos dá uma lição imensa! Obrigado!