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Samarco sabia do risco do colapso da barragem e não fez nada, acusa procurador responsável pela investigação da tragédia

Samarco sabia do risco do vazamento no Rio Doce e não fez nada, acusa procurador responsável pela investigação da tragédia

Uma nova denúncia veio à tona na semana passada sobre o maior desastre ambiental já acontecido na história do Brasil.

No dia 5 de novembro de 2015,  o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, fez com que um mar de resíduos tóxicos fosse jogado na bacia do Rio Doce, próximo à Mariana, em Minas Gerais. A lama de minério destruiu completamente o vilarejo de Bento Rodrigues e deixou 19 pessoas mortas, além de poluir e contaminar toda a água da região e tirar a vida de centenas de animais.

Nenhum sinal de alerta foi soado. Os moradores simplesmente viram uma mar de lama chegando em sua direção e carregando tudo pela frente.

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Dois anos depois, o minério da Samarco ainda contamina a água do Espírito Santo, da Bahia e do Rio de Janeiro.

Pois, na semana passada, em uma reportagem especial do jornal britânico The Guardian, o procurador da República José Adércio Leite Sampaio, coordenador da força-tarefa criada pelo Ministério Público Federal (MPF) para investigar o caso do desastre ambiental, afirmou que seis meses antes do colapso da barragem, a Samarco recebeu uma avaliação de risco sobre os impactos do possível acidente.

Mas segundo Sampaio, mesmo tendo conhecimento da tragédia iminente, a companhia, fruto da sociedade de duas gigantes do setor petrolífero – a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton -, não fez nada. Pelo contrário, aumentou o ritmo da produção e decidiu cortar custos.

“Eles priorizaram lucros e deixaram a segurança em segundo lugar”, diz o procurador em seu parecer sobre o caso.

O documento de avaliação de risco da Samarco, ao qual a procuradoria teve acesso, fala exatamente no risco de “20 mortes, sérios impactos sobre a terra, os recursos hídricos e a biodiversidade da região pelos próximos 20 anos e prejuízos de 3,4 bilhões de dólares”.

De acordo com os membros da equipe  do MPF que apura o caso, a questão da segurança na barragem de Fundão foi questionada por diversas vezes em reuniões da empresa. Logo depois que começou a funcionar, em 2008, ela já teria apresentado problemas. E eles foram se repetindo nos anos seguintes e os diretores da Samarco teriam sido informados e estariam cientes dos problemas técnicos da construção ao longo de todo este tempo.

Em nota, respondendo à acusação feita pela reportagem do The Guardian, Samarco, Vale e BHP Billiton refutaram a denúncia. Alegaram que a segurança da operação sempre foi prioridade.

A pesca na região da foz do Rio Doce continua proibida até hoje. A área de proibição se estende desde Degredo, em Linhares, até Barra do Riacho, em Aracruz, ambas no litoral capixaba.

Em dezembro de 2017, a Samarco ainda negociava indenizações com as vítimas do desastre ambiental. Segundo a Fundação Renova, que está à frente de todo o processo de “rescaldo” da tragédia para a mineradora, “o atendimento para (vítimas) que se cadastrarem em 2017 está previsto para até 30 de junho de 2018”. Ou seja, quase três anos depois do acidente.

Enquanto isso, a Samarco obteve no final do ano passado a primeira licença para retomar suas atividades no Complexo de Germano, localizado entre Mariana e Ouro Preto, na Região Central do estado. A mineradora estava proibida de funcionar deste 2015.

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Foto: Corpo de Bombeiros (MG)/Fotos Públicas

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