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Lama tóxica da barragem da Samarco ameaça agora chegar a Abrolhos

Lama tóxica da barragem da Samarco ameaça agora chegar a Abrolhos

Após a realização de três expedições na região da foz do Rio Doce, na zona costeira do Espírito Santo e sul da Bahia, pesquisadores apresentaram ontem (21/07) o primeiro estudo conclusivo sobre os danos ao meio ambiente provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, próximo à Mariana, em Minas Gerais, em novembro de 2015.

Considerado a maior tragédia ambiental da história do país, o acidente fez com que um mar de lama com rejeitos de metais pesados e elementos químicos destruísse o vilarejo de Bento Rodrigues (matando mais de 20 pessoas) e contaminasse todo o leito do rio, tirando a vida de centenas de animais.

O levantamento feito pelo oceanólogo Adalto Bianchini, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o físico Heitor Evangelhista, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), e o geólogo Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) revela que, apesar do nível de contaminação ter aparentemente diminuído, ainda há motivo para preocupação.

Entre a primeira e a terceira expedições, conduzidas em janeiro, abril e dezembro de 2016, foram coletadas amostras da pluma de sedimentos na superfície da água, de rejeitos no fundo do mar, além de animais marinhos e outros organismos vivos. Nos primeiros testes, os exames em laboratório detectaram alto grau de contaminação por ferro, níquel, cobre, zinco, alumínio, manganês, cromo e arsênio.

Com o passar dos meses,  à medida em que a lama se dispersou, a qualidade da água melhorou, mas ainda assim, na última viagem, foi constatada uma considerável redução da presença de fitoplânctons, zooplânctons, ictioplânctons e bentos nas amostras de água e do substrato (matéria) do fundo do mar. De acordo com os especialistas, estes organismos estão na base da cadeia alimentar e sua ausência compromete o equilíbrio de todo o ecossistema marinho.

A extensão da tragédia ainda pode ser sentida a centenas de quilômetros a partir da foz do Rio Doce, que foi classificado como “seis vezes mais estressado ambientalmente do que o normal”. Por esta razão, a recomendação é que se mantenha a proibição da pesca, principalmente a de arrasto, que revolve o fundo do mar e pode trazer à tona os sedimentos da mineradora.

Ainda segundo os pesquisadores, o dado mais alarmante do relatório, entretanto, é que a medida que o fluxo da lama segue na direção norte do litoral capixaba, ele representa uma ameaça concreta à região de Abrolhos, a maior formação de recifes de coral e o maior banco de biodiversidade marinha do Atlântico Sul.

A equipe que fez parte das expedições afirmou que encontrou a presença de “micropartículas” de ferro nas amostras de água coletadas em Abrolhos, “o que pode ser um sinal de que a lama está se aproximando. No entanto, segundo eles, ainda não é possível afirmar taxativamente que a região foi atingido pela contaminação”.

Abrolhos, um paraíso em risco

O arquipélago de Abrolhos é um parque nacional marinho, situado no sul da Bahia, e composto por cinco ilhas. Algumas espécies de corais são endêmicas ali, ou seja, só existem lá e em nenhum outro lugar do planeta. Abrolhos abriga algumas das principais áreas-berçário de baleias-jubarte, que migram para o local para se reproduzir.

Tartarugas-marinhas ameaçadas de extinção, como as de couro, cabeçuda, verde e de pente, também se refugiam no parque, assim como aves como a grazina e os atobás. Estima-se que o arquipélago seja habitat de aproximadamente 1.300 espécies, 45 delas consideradas ameaçadas.

O trabalho de monitoramento da contaminação da lama tóxica da Samarco, empresa pertencente às multinacionais Vale e BHP Billington – e que até março deste ano ainda debatia na justiça um acordo de ressarcimento para os danos socioambientais na região – , é feito por um comitê interinstitucional, formado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que também administra o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturáveis Renováveis (Ibama), a Agência Nacional de Águas (ANA), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Instituto Estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo (Iema).

Diante do resultado das expedições, os pesquisadores recomendaram a “manutenção do monitoramento em toda a região afetada pelos rejeitos, com a inclusão de novas e mais precisas medidas de avaliação”. Para eles, só assim, será possível determinar se o impacto provocado ao meio ambiente é agudo – de curto prazo e reversível -, ou crônico, isto é, definitivo e sem solução.

Parece que a tragédia nunca acaba. Vidas humanas e animais nunca serão recuperadas. E o impacto ambiental continua se alastrando, com os principais responsáveis ainda impunes.

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Fotos: Leonardo Merçon

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