Você já deve ter visto por aí, ou mesmo recebido em casa ou na empresa, encomendas transportadas por bike courier. Eles pedalam pra levar até onde você estiver os mais diversos tipos de pacotes, desde delivery de comida até livros e documentos.
Dentro desse universo, quem se esforça pra entregar as encomendas é o ciclista, que pedala até sua casa em meio ao trânsito. E as empresas de bike courier são…empresas. Repassam parte do valor das encomendas aos bikers, e esse percentual pode variar entre 30% e 50%. Dinheiro que muitas vezes mal dá pra pagar a alimentação e nem de longe dá conta de cuidar da manutenção das bicicletas.
Insatisfeitos com essa situação, amigos bikers resolveram fundar, em São Paulo, há cerca de dois meses, uma cooperativa de bike courier, a Giro Sustentável.
“As empresas cobram do cliente e não repassam para o biker o que seria justo pelo trabalho dele. O ciclista trabalha com o corpo, é preciso ter alguns cuidados. A Giro quer justamente criar um ambiente mais seguro e sustentável para o ciclista, no qual ele possa desenvolver melhor o seu trabalho e, consequentemente, atender melhor o cliente”, avalia Eberton Luís Alves, o Betinho, um dos integrantes da cooperativa e ciclista há 13 anos.
Em dois meses de funcionamento, a Giro Sustentável tem dois contratos fixos, ambos na área de alimentação: o Restaurante Gopala, próximo à avenida Paulista, e o delivery do Momon, com opções veganas e vegetarianas e área de entrega na região da Avenida Carlos Berrini e no bairro Vila Olímpia.
“Hoje, a Giro está buscando se aproximar de alguns mercados específicos, em especial da área de alimentação vegana, vegetariana e natural. Esses restaurantes têm preocupação ou fundo social, buscam a entrega de bicicleta porque isso complementa a imagem da empresa, e faz muito sentido para o público deles”, avalia outro integrante da Giro, Ivo Pons.
A cooperativa também está prospectando entregas em outras setores como cartórios, sindicatos, farmácias e serviços em que o cliente recebe o produto e paga diretamente aos portadores ciclistas, que depositam o valor na conta da empresa. Empresas de tecnologia e empreendimentos de economia solidária também estão entre os clientes já atendidos pela Giro, como a Rede Design Possível, a UNISOL, Scipopulis e Tempero Bom.
“O fato de os bikers serem cooperados ajuda no dia a dia, porque engaja todo mundo na participação, traz um outro tipo de empoderamento para o trabalhador. Muda mesmo a relação de trabalho. Estamos em sete pessoas hoje, esperando a cooperativa se firmar para trazermos mais gente”, diz Ivo.
Hoje, os desafios da Giro Sustentável são: alcançar sustentabilidade econômica, encontrar nichos de clientes e ‘contaminar’ os mercados com os conceitos da economia solidária. “Queremos promover outras cooperativas como a nossa. O mercado de bike courier tem que ser feito dessa maneira, porque são eles que pedalam e, por isso. devem ficar com a maior parte do recurso da operação”, avalia Betinho.
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