Durante os dias em que estive fotografando em Itaúnas, no Espírito Santo, lembrei de uma frase: “Como indivíduos somos fantásticos, como sociedade, inconsequentemente irracionais!“.
Reflexões como esta me vêem à cabeça quando estou longe da bolha da normalidade, em pequenas experiências que poderiam passar totalmente despercebidas.
Voltando para casa ao final do projeto, meu carro parou por problemas mecânicos, no meio do nada, em uma estrada cercada por uma plantação de eucaliptos. Tive que esperar o guincho.
Sentei à beira da estrada, em cima do cantil de água e fiquei em silêncio, analisando a vegetação ao redor. Tudo parecia deserto e sem vida. Uma característica comum das monoculturas. Passados 20 minutos, inesperadamente, a vida começou a se mostrar.
Parece que os pássaros e insetos menos impactados por ambientes antropizados, haviam se escondido de mim. Ou talvez, eu não os estivesse percebendo antes, enquanto dirigia com a cabeça perdida nos problemas da vida cotidiana.
Fiquei observando aquilo tudo. Um universo limitado de vida que, mesmo sendo um fotógrafo de natureza, raramente parei para observar despretensiosamente e sem câmeras em mãos por tanto tempo.
Então, foquei minha atenção em uma moita próxima. Eu lá, sentado observando os detalhes por mais de uma hora. Em certo momento, vi em uma folha uma pequena aranha-saltadeira, daquelas cabeçudas, com os olhos grandes. Vindo da direção oposta, uma outra aranhazinha da mesma espécie aproximou-se. Quando as duas perceberam a presença uma da outra, começaram uma disputa pela pequena folha. A moita parecia imensa em relação às duas.
Continuei lá, olhando a cena por uns 5 minutos, até que uma das aranhazinhas foi subjugada e fugiu com um grande salto.
Parei, olhei ao redor, e pensei: “Com uma floresta gigante dessas (mesmo sendo de eucaliptos) a seu dispor, essas aranhazinhas “estúpidas” ficam lutando por uma moita minúscula!”. Refleti novamente e concluí: “O que estou falando!? Nós, seres humanos, não agimos muito diferente disso. Não somos menos estúpidos do que aquelas pequenas que ferozmente disputavam um espaço tão pequeno!”
Em um universo com possibilidades infinitas, ficamos lutando e desperdiçando nossos já escassos recursos para dominar este minúsculo pedacinho de rocha.
Se somássemos tudo o que é gasto em guerras inúteis, em um progresso inconsequente e investíssemos no bem comum, conseguiríamos manter nosso planeta a salvo das catástrofes ambientais que enfrentamos com cada vez mais frequência, além de que alcançaríamos fronteiras inimagináveis, com recursos infinitos!
Então, pensei comigo, novamente naquele monólogo mental: “Está na hora de começarmos a inventar novas formas de viver, ao invés de novas formas de matar e destruir!”
O guincho chegou e voltei à realidade, achando engraçado até onde minha mente havia chegado apenas observando uma aranhazinha!