Sua criança às vezes fica pensativa, silenciosa, contemplativa? Não se preocupe! Ela pode estar vivendo momentos de profunda interação consigo mesma, ou até mesmo momentos de êxtase. E isso com percepções sobre as quais ela ainda não tem vocabulário para expressar, mas que podem ser muito amplas.
Esses momentos são preciosos, fundamentais para o desenvolvimento integral da criança e, por isso, devem ser respeitados com delicadeza e – por que não? – reverência. É em momentos como esses que elas mantêm contato com um todo maior e se sentem acolhidas e serenas.
Devido à agitação do mundo adulto atual, focado nos resultados e na produtividade, muitos pais não percebem esses momentos das crianças ou, quando se dão conta deles, buscam preencher esse silêncio rapidamente com atividades, comentários e todo tipo de estímulos. Muitos até pensam que a criança pode estar doente, pois associam saúde à atividade ou mesmo à hiperatividade.
Olhar, observar ou ficar quieto, simplesmente, são alguns dos maiores prazeres do corpo, mas geralmente confundidos com passividade, preguiça e solidão. A falta de tempo do mundo adulto, o excesso de informação e a necessidade de sempre produzir algo é que preenchem o cotidiano e acabam invadindo o universo infantil. “O sentido dominante – olhar, ver e enxergar – necessita ligar-se aos outros sentidos e voltar-se para o corpo. A criança, ávida em descobrir o mundo, observa tudo muito diferente do olhar do adulto, que carregado de seus valores e sua história, torna-se mais direcionado”, diz Dulcilia Schroeder Buitoni, em seu livro De volta ao quintal mágico – A educação infantil na Te-Arte.
Esses momentos – arriscamos dizer – são quando a criança é natureza, é mais natureza, é menos envolvida com as formas da cultura em que vive, mesmo estando em casa. Mas quando elas estão livres, brincando ao ar livre, em contato com os outros seres não humanos, esses momentos são mais comuns. Pois é preciso parar para observar verdadeiramente uma flor, uma fila de formigas ou atentar-se aos movimentos das nuvens.
Tudo na natureza é convite à contemplação. Tudo na natureza é convite para ser quem se é, na sua melhor expressão. O jornalista Richard Louv – em seu aclamado livro recém lançado em português A última criança na natureza – diz que “a natureza apresenta as crianças à ideia – ao conhecimento – de que elas não estão sozinhas no mundo e que existem realidades e dimensões paralelas às delas”. E é o estado contemplativo que permite o acesso a esse plano maior e muito mais sutil, dentro do qual todos nós vivemos.
Em vez de apressá-las ou se irritar com esses momentos das crianças, pais e educadores devem aproveitar para se alinhar com elas, permitindo-se aprender com os pequenos e desfrutar da maravilha de viverem juntos instantes preciosos, carregados de eternidade.