PUBLICIDADE

Que música faz você comprar mais?

8344048410_176048abb9_b (800x520)

O mundo das compras está repleto de armadilhas para nos pegar desprevenidos, num piscar de olhos. Mesmo quando nossa intenção (e a prática cotidiana) é construir, dia após dia, um caminho de consumo mais consciente, não ficamos livres das técnicas criadas para nos fazer comprar por impulso ou sem necessidade. Com sorte (e um pouco de treino!), porém, passamos a percebê-las e, então, ficamos mais atentos e aptos a fazer escolhas mais criteriosas.

Nesse sentido, vale a pena refletir um pouco sobre as músicas que ouvimos sem perceber e sem (o direito de) escolher, e o impacto que essa audição desatenta exerce no nosso organismo, no nosso humor, até nas nossas compras.

A audição é um sentido que funciona o tempo todo, sem pausa ou botão de liga e desliga. Tem a tarefa de nos proteger, desde os primórdios da humanidade, quando ela nos despertava do sono para avisar que havia algum perigo iminente ao redor. Mas, hoje, nesse mundão de estímulos incessantes que recebemos o tempo todo, ela se saturou, ‘desligou-se’, tornou-se mais desatenta, ouve de tudo um pouco, mas sem a devida percepção.

PUBLICIDADE

É nesse lapso de atenção que mora o “perigo”. Quando entramos numa loja de roupas, por exemplo, nem sempre paramos para prestar atenção no som que está rolando. Mas, pode ter certeza, aquela música pode influenciar nossas decisões naquele espaço, naquele ambiente. Aliás, é bem provável que a trilha sonora tenha sido selecionada para provocar uma determinada associação entre os produtos da vitrine e as sensações que cada faixa produz nos clientes. Já existem até empresas especializadas em construir trilhas para marcas. Óbvio, não? Imagine se uma loja de roupas para surfistas, por exemplo, vai ter o mesmo som ambiente de uma que vende camisas e ternos para executivos…

Funciona assim: você entra na loja em busca de uma roupa nova e, de repente, ouve uma música que te dá uma sensação de alegria, de férias, ou que traz recordações de alguma viagem ou momento alegre. A partir daí, a chance de você comprar algo ali dentro será maior simplesmente porque você vestiu a roupa e “ela” te fez bem, te deixou feliz. Bingo!

Uma música não é apenas uma música. A indústria cultural e a indústria fonográfica sabem disso. Cantoras “divas” gravam discos nem sempre porque cantam bem ou têm realmente algum talento, mas porque são experts em formar séquitos ávidos por vestir suas roupas, imitar seu estilo, a cor do cabelo, das unhas, os acessórios, enfim, a parafernália toda que não faz o som ser melhor, mas aumenta as possibilidades de multiplicar os produtos ligados àquele artista. Assim, as pessoas consomem a música na expectativa de entrar no universo daquela celebridade, sentir um pouco do gostinho de “ser” como ela.

Se você entra numa loja em busca de uma roupa da moda e ouve um som que está no top ten das paradas de sucesso, algo em você tenderá a achar que aquela marca é realmente incrível, o máximo, antenada, cool, e por aí vai. Quem está cantando você não é o artista, mas a marca, a empresa que quer te conquistar também pela música. A música vendeu a roupa.

Não sou mais esperta do que ninguém, mas estudo música desde bem pequena. Talvez por isso eu preste tanta atenção no som. E se tem uma coisa que me incomoda profundamente é ter que ouvir música a contragosto. Entrar num supermercado e ouvir “as dez mais” da rádio altera meu humor e, em geral, meu ritmo, pois deixo metade da lista para trás, para acabar logo com aquela tortura. Música de elevador, de sala de espera de dentista, de academia, de lanchonete, sorveteria, socorro! Pra mim, é quase insuportável.

Lembro-me de quando eu fazia terapia e chegava antes da hora nos dias em que o trânsito ajudava. Eu ficava aguardando numa salinha bastante confortável, mas que tinha uma caixa de som ligada sempre na mesma rádio, uma dessas que não renova o acervo de discos desde os anos 1980. Resultado: aquilo me remetia tanto à minha infância ou à casa dos meus pais e avós, que várias vezes me flagrava começando a sessão por aí… Cheguei a achar que era algo proposital.

Fico pensando se não nos falta, por fim, um pouco de silêncio. Um pouco de contato direto com nossos anseios, sem “mediadores” que apenas nos confundem, sabe? Um pouco mais de atenção ao que sentimos e por que sentimos. Às vezes, tenho vontade de entrar no estabelecimento e pedir: “Dá pra baixar o som, por favor, que eu preciso ouvir a minha voz e não a sua a me dizer o que preciso levar para casa?”.

Foto: Caden Crawford via Photopin / Creative Commons

Comentários
guest

1 Comentário
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
ELIETE.
ELIETE.
8 anos atrás

Boa Giu.. é isso ai, vamos acordar ,prestar atenção a vida e sair do automático.

Notícias Relacionadas
Sobre o autor