Durante os primeiros meses do isolamento social devido à pandemia da Covid-19, nos mobilizamos muito para manter a conexão das pessoas com a natureza, mesmo estando dentro de casa. E, começamos alimentando nossa própria conexão.
Uma das ações foram as cartas de experiências pela janela – que já foram tema de post, aqui, no blog: A janela como lupa.
Mas precisávamos sentir a vida pulsando perto da gente. Perceber os movimentos dia-a-dia.
Foi assim que começamos a plantar batata-doce na água, dentro de um pote de vidro e pronto! Em alguns dias, já era possível ver fiozinhos brancos crescendo – raízes.
Em aproximadamente 15 dias começaram a surgir pequenas folhas. Que foram crescendo, crescendo. E assim como na quadrinha – “Batatinha quando nasce espalha rama pelo chão ” -, por aqui ela cresceu pelas paredes e chegou até o teto!
Conforme compartilhamos os processos nas redes sociais do Ser Criança é Natural (Facebook e Instagram), pessoas de todo o Brasil se juntaram a nós. E muitas crianças acompanharam diariamente o crescimento de suas batatas incentivadas por suas famílias ou pelas escolas.
E quanto mais batatas cresciam pelo Brasil, mais perguntas recebíamos:
– Precisa colocar água todo dia?
– Quanto tempo demora para crescer as primeiras folhas?
– Até quando ela pode ficar na água?
– Tem que passar para a terra?”
Observar a vida pulsando, em seu pleno movimento de crescimento é também se conectar com ela, com seu tempo e suas necessidades.
Plantamos muitas batatas. Cada uma cresceu num ritmo próprio, mesmo que estivessem em locais próximos, recebendo a mesma quantidade de luz. Cada ser é único e tem seu tempo de desenvolvimento.
Em vez de respostas prontas, fique com a incerteza
Atentar-se à singularidade de cada batata nos ensinou muito sobre processos investigativos. Em vez de buscar respostas prontas, oferecemos, a quem nos escreveu, a dúvida e ainda desafiamos: tente seguir sem procurar no Google”.
Em vez de buscar respostas prontas, faça da incerteza um processo de pesquisa.
Sugerimos a atenção exclusiva à sua batata, que é diferente de qualquer outra batata plantada no Brasil:
Com que frequência é necessário repor a água? Que sinais ela dá quando o espaço está pequeno? O que a direção para a qual as ramas crescem diz sobre suas necessidades? Quando ela pede para ser plantada na terra?
E de tantas investigações também recebemos registros de famílias que colheram batatas que plantaram na terra. Muitas batatas!
Acompanhar relatos vindos de todos os cantos do Brasil e a experiência com nossas batatas nos ensinaram sobre batatas-doce (óbvio), mas também como a gente pode observar o tempo de crescimento de cada ser humano e o que nós adultos podemos fazer para criar condições para que esse desenvolvimento aconteça no máximo da sua potência.
O que a batata me ensinou
Agora, leia o relato da Ana Carol sobre sua experiência com as batatas doces:
“Uma das minhas batatas foi plantada originalmente num copo americano. O tamanho dela cabia direitinho. Logo apareceram folhinhas. Em vez de nascerem por cima – ou por onde eu julgo ser a parte de cima da batata -, nasceram por baixo.
Passaram-se dias e as folhinhas continuavam do mesmo tamanho. Reparei bem e percebi que o espaço para que elas subissem quase não existia. A batata ocupava toda a área da circunferência.
Com cuidado fiz a transição para uma pequena jarra de vidro, onde ela está hoje. Cinco dias depois: Tcharam! Tem folhas para todos os lados!
O que a batata me ensinou: Todo mundo quer crescer. Receber olhar atento, espaços e possibilidades para seu desenvolvimento é fundamental neste processo”.
Agora, podemos seguir com as observações e os questionamentos a partir dessa vivência:
– que processo é esse que faz com que as batatas dialoguem com a gente pra dizer para onde querem crescer e que necessidades têm?
– que processo é esse que faz das batatas seres tão inteligentes e que sabem o que querem?
– que força misteriosa é essa que as impulsiona a formar folhas e raízes?
– qual a relação que as folhas têm com as raízes no processo de crescimento?
– quanto da observação das batatas crescendo e de suas necessidades transformaram o meu olhar?
– como eu observo o movimento da batata, que vem de dentro para fora, e relaciono com o meu próprio movimento de permanente vir-a-ser?
– quanto esse exercício – tão simples e prazeroso – fez crescer meu próprio mundo interior?
– de que preciso para olhar para o mundo da mesma forma, com atenção, interesse e disponibilidade para o cuidado?
Olhar vivo, mundo vivo
Um olhar desencantado cria mundos desencantados. O que queremos é exatamente o contrário! Observar com atenção, perguntar a partir da experiência, agir de acordo com o que entendemos como necessário, são formas de estarmos cada vez mais vivos neste mundo vivo e belo em que vivemos… ou podemos viver!
Ana Carol Thomé – uma das autoras deste blog – conversou com Vilma Silva (que tem no seu tema de pesquisa a formação estética dos profissionais da educação), em live no Instagram, sobre os processos investigativos que surgem ao observarmos as batatas crescendo.
Como é que podemos aprender com essa relação? O que é que aprendemos nesse acompanhamento diário, atento e minucioso?!
Assista e veja se você encontra respostas para suas questões. Pode ser, até, que descubra outras observações possíveis. Depois, conta pra gente.
Foto (destaque): Ana Carol Thomé
que linddoooo. estou fazendo com meus pequenos…