Junior Hekurari Yanomami, presidente Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), foi quem deu o alerta, no sábado, 29/4: garimpeiros invadiram a comunidade Uxiu, na Terra Indígena Yanomami e “abriram fogo”. Os criminosos feriram gravemente três indígenas que, depois de serem atendidos por uma equipe médica de Surucucu no local, foram levados de helicóptero para uma unidade de referência em saúde indígena.
Ilson Xiriana, de 36 anos, que atuava como agente de saúde no do Distrito Sanitário Indígena Yanomami (DSEIY), levou um tiro na cabeça e, após quatro paradas cardíacas, faleceu na madrugada de domingo, 30/4. Seu corpo seguiu para perícia da Polícia Federal.
Os outros dois, Otoniel Xiriana, de 24 (que teve uma bala alojada no pulmão esquerdo), e Venâncio Xiriana, de 31 anos (levou tiros no abdômen e na perna direita), foram transferidos para o Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, onde passaram por cirurgia e continuam em estado grave.
No dia seguinte ao crime, agentes da Polícia Federal (PF) chegaram ao local do conflito com apoio da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e da Força Aérea Brasileira (FAB), para “investigar o ocorrido e interromper eventuais agressões que ainda estivessem em andamento”.
Segundo a PF, durante as diligências na TI Yanomami foram apurados indícios do crime e o local onde foi cometido, além de ouvidas as testemunhas. Somente após a elaboração dos laudos e relatórios é que as investigações prosseguirão.
PRF revida ataque e mata garimpeiros
No domingo à noite, na região de Uiaiacás, na TI Yanomami, agentes do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) desembarcavam da aeronave para fiscalizar área de garimpo ilegal, quando foram atacados por quatro homens.
Em nota, a PRF declarou que “criminosos, munidos de armamento de grosso calibre, atiraram contra os agentes no intuito de repelir a atividade de repressão ao garimpo ilegal. Os policiais revidaram e atingiram quatro atiradores, que não resistiram aos ferimentos”.
De acordo com informações do Ministério do Meio Ambiente (MMA), entre os criminosos mortos estava um foragido da Justiça do Amapá, e há indícios de que uma facção criminosa “controla o garimpo no qual houve o confronto”.
Os policiais apreenderam onze armas: sete espingardas calibre 12mm, um fuzil e pistolas calibre 45 (de uso restrito), entre outros materiais: coldres, munições, carregadores. (foto abaixo). E declararam que esse tipo de ataque também ocorreu “em acampamentos clandestinos – nas comunidades de Maikohipi e Palimiú” (esta foi atacada em 2021: crianças foram mortas a tiros e sugadas por draga) – “sempre na tentativa de inibir o trabalho de desintrusão das terras demarcadas“.
Além do Ibama e da PRF, a operação para combater o garimpo ilegal na TI Yanomami tem a participação da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança Pública, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), das Forças Armadas, da Funai e dos ministérios da Justiça, dos Povos Indígenas e da Defesa.
Comitiva interministerial em Roraima
Ao tomar conhecimento do ataque aos indígenas, no domingo, o presidente Lula convocou reunião de emergência realizada no MMA, e determinou o reforço de todas as ações naquele território.
As ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e da Saúde, Nísia Trindade viajaram à Boa Vista (RR) ontem, 1/5, na companhia do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, da presidente da Funai, Joenia Wapichana, do secretário nacional de Segurança Pública, Francisco Tadeu de Alencar, do diretor para Amazônia da Polícia Federal, Humberto Freire, do diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Schmitt, e do secretário especial de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, entre outros/as representantes do Governo Federal.
Em suas redes sociais, Sonia lembrou que “a situação dos invasores na TI Yanomami vem de muitos anos” e reconheceu que, “mesmo com todos os esforços realizados pelo governo federal, ainda faltam muitas ações coordenadas até a retirada de todos os invasores do território”.
Pela manhã, a ministra da Saúde foi com Weibe Tapeba até o Hospital Geral de Roraima (HGR) para visitar os Yanomami feridos. E Marina Silva e Sonia Guajajara sobrevoaram áreas ocupadas pelo garimpo, junto com o líder e xamã indígena, Davi Kopenawa, e membros da comitiva.
Vista aérea da desintrusão
“Já é visível a melhoria na crise sanitária. É visível o avanço da desintrusão a partir das imagens do sobrevoo (foto abaixo). A operação é para a pacificação da Terra Indígena Yanomami”, contou Sonia Guajajara em seu Instagram, após sobrevoo nas comunidades de Homoxi e Uxiu (onde os garimpeiros balearam os indígenas).

“Foram os garimpeiros que criaram este problema social, ambiental e o risco de genocídio de uma etnia, levando o crime, assassinatos e estupros, decorrentes da atividade ilegal que é o garimpo”.
A ministra dos Povos Indígenas ainda destacou que o Estado continua com a ação interministerial integrada para acabar com o garimpo, iniciada logo que Lula viajou para Boa Vista, em janeiro deste ano, e viu de perto a situação dos Yanomami.
“Trata-se de uma ação integrada, articulada, para devolver a dignidade ao povo yanomami. Cerca de 80% dos garimpeiros já saíram, mas ainda há aqueles que resistem e insistem em permanecer”. Foram estes que atacaram os indígenas e os agentes da PRF e do Ibama.
Também seguiram para Roraima: o secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, o diretor da Força Nacional, coronel Fernando Alencar, e o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, Humberto Freire.
Áreas desmatadas reduziram 80%
Os dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente ilustram bem o que a ministra dos Povos Indígenas viu do avião e relatou: desde o início da operação para desmobilizar a estrutura do garimpo ilegal e desintrusão dos criminosos, os agentes do Ibama já destruíram 327 acampamentos, 2 helicópteros, 18 aviões, dezenas de balsas, barcos e tratores e centenas de motores.
Também foram apreendidas 36 toneladas de cassiterita, 26 mil litros de combustível, além de equipamentos usados por criminosos.
E vale ressaltar que imagens de satélite apontam redução de cerca de 80% de áreas desmatadas para mineração de fevereiro a abril, em relação ao mesmo período do ano anterior.
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Fontes: Ministério do Meio Ambiente, Folha de SP, G1
Foto: Junior Hekurari/divulgação