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Terra Indígena Piripkura, no MT, é devastada pela boiada e coloca em risco os dois últimos sobreviventes dessa etnia, revelam imagens aéreas

Terra Indígena Piripkura, no MT, é devastada pela boiada e coloca em risco os dois últimos sobreviventes dessa etnia, revelam imagens aéreas

Por Tainá Aragão, com fotos de Rogério Assis*

Desmatamento, invasões de fazendas de gado e degradação florestal dentro da Terra Indígena Piripkura, no Mato Grosso, alcançam patamar inédito”. Essa é a denúncia que evidencia o dossiê Piripkura: Uma Terra Indígena devastada pela boiada, lançado esta semana, em 22/11, pela campanha #IsoladosOuDizimados.

A campanha – que também conta com uma petição – é promovida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), com apoio do ISA – Instituto Socioambiental, e outras organizações parceiras.

No centro do documento, imagens aéreasde sobrevoo realizado em outubro deste ano – registram como o território de Baita (Pakyî) e Tamandua, os dois últimos Piripkura em isolamento de que se tem notícia, está sendo desmatatado, grilado e invadido por rebanhos bovinos.

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Terra Indígena Piripkura, no MT, é devastada pela boiada e coloca em risco os dois últimos sobreviventes dessa etnia, revelam imagens aéreas
Foto: Bruno Jorge/documentário Piripkura

A boiada, sob conivência do Estado, está literalmente correndo solta na Terra Indígena Piripkura.

Localizada nos municípios de Colniza e Rondolândia, no estado de Mato Grosso, esse território é ameaçado há décadas pelo lobby agropecuário e pela exploração madeireira. No entanto, a flexibilização de sua proteção, no último biênio do governo Bolsonaro, piorou um cenário que já era devastador.

O monitoramento da TI Piripkura, realizado pelas organizações parceiras da campanha #IsoladosOuDizimados, analisou imagens de satélite e imagens aéreas produzidas em sobrevoo que comprovam a expansão de fazendas agropecuárias e a reativação da atividade comercial de madeireiras dentro do território indígena.

Violações de direitos seguem a todo vapor e sem nenhuma intervenção efetiva do Estado. Grandes desmatamentos e queimadas impulsionam a expansão das fazendas.

“Aquela área que nós sobrevoamos, é uma área nova, uma expansão dessa atividade para a pecuária, já exploraram as madeiras que agregam valor comercial para fazer exportação nesse estado ou externamente. E, agora, para fazer plantio de capim, para colocar gado ali dentro”, explica Elias Bigio, ex- coordenador-geral de Índios Isolados e Recém-Contato (Cgiirc- Funai), que esteve presente na ação.

Confira os cinco principais crimes identificados no sobrevoo, registrados por Rogério Assis/ISA):

  1. Fazendas consolidadas no interior da TI Piripkura com construções rurais, cercas, pastagens manejadas, estábulos, ramais de acesso e pistas de pouso.
Terra Indígena Piripkura, no MT, é devastada pela boiada e coloca em risco os dois últimos sobreviventes dessa etnia, revelam imagens aéreas
Foto: Rogério Assis/ISA

2. Ocupações rurais recentes, com intensa movimentação de caminhões e tratores, construção de açudes, cercas, transporte de gado, estábulos e eletrificação rural dentro da TI:

Terra Indígena Piripkura, no MT, é devastada pela boiada e coloca em risco os dois últimos sobreviventes dessa etnia, revelam imagens aéreas
Foto: Rogério Assis/ISA

3. Enorme área de 2.361 hectares desmatada recentemente, entre 2020 e 2021 e, ainda, evidências das queimadas e talhões com formação de pastagem:

Foto: Rogério Assis/ISA

4. Ramais de transporte de gado e da madeira explorada ilegalmente encontram-se em bom estado de manutenção, o que evidencia o exercício de atividade econômica e/ou comercial frequente:

Foto: Rogério Assis/ISA

5. Desmatamento recente, realizado entre os meses de julho a setembro de 2021, localizado a menos de 500 metros dos limites da TI e que já acumula 303,8 hectares:

Foto: Rogério Assis/ISA

*Leia a reportagem completa, realizada pelo ISA – Instituto Socioambiental e publicada em 22/11/2021 em seu site: A boiada avança sobre os dois últimos indígenas Piripkura.

NOTA DA REDAÇÃO DO CONEXÃO PLANETA – aproveitamos esta reportagem do ISA para acrescentar informações sobre desmatamento registrado no primeiro semestre deste ano, que corroboram as ameaças acima relatadas. E também para indicar o documentário Piripkura, de 2018 (disponível em algumas plataformas), que conta a história desta etnia a partir do relato do servidor da Funai Jairo Candor, que acompanhou Baita e Tamanduá por 30 anos (Mônica Nunes, editora, 23/11/2021).

A TI mais devastada no MT

Vale destacar, ainda, que, em 18 de maio deste ano, o Imazon divulgou dados sobre desmatamento, que indicavam a maior destruição dos últimos dez anos, e o Amazonas como líder do ranking dos estados.

Além disso, denunciavam que as unidades de conservação mais atingidas estavam no Pará e em terras indígenas, no Mato Grosso. E que a mais desmatada, nessa região, continuava sendo a Terra Indígena Piripkura, onde vivem Baita e Tamandua.

Desde 2008, a TI Piripkura é protegida por um dispositivo chamado Portaria de Restrição de Uso, que resguarda territórios que ainda não foram reconhecidos e demarcados, restringindo a entrada e o uso em razão da presença de indígenas em isolamento.

A portaria tem um período de validade que, normalmente, vai de dois a três anos. Entretanto, a última portaria da Piripkura foi renovada em setembro, por apenas um semestre. Ou seja, em março, os indígenas estarão ainda mais desprotegidos e isso parece ter incentivado a sanha pela destruição, como o ISA divulgou em outubro: Monitoramento realizado pela organização detectou mais de 1,7 milhão de árvores derrubadas até agosto.

Os Piripkura no cinema e na TV

O documentário que leva o nome da etnia – Piripkura –, estreou em março de 2018 em seis capitais brasileiras e já era um grito de alerta tardio.

Dirigido por Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge, recebeu três prêmios: de melhor documentário de longa-metragem na 19ª edição do Festival do Rio, e de direitos humanos no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, ambos em 2017; e de melhor documentário internacional na 14ª edição do Docville (maior festival de documentários da Bélgica), em 2018. 

O filme começou a ser idealizado quando os diretores conheceram o indigenista Jair Candor, que atuava na Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Madeirinha-Juruena, da Funai. Ele trabalhou no órgão por 30 anos como servidor, no extremo noroeste do Mato Grosso, e coordenava uma pequena equipe que acompanhava diariamente os vestígios da existência de Baita e Tamandua.

O objetivo da missão era provar que eles estavam vivos para garantir a atualização periódica do decreto governamental (a tal portaria sobre a qual comentamos há pouco) que impedia qualquer exploração no fragmento de floresta em que os dois viviam ou vivem.

A primeira parte do filme se passa na Terra Indígena Karipuna, em Rondônia, e mostra Rita Piripkura, irmã de Baita e tia de Tamandua, que, com o marido, Aripã Karipuna, participava de algumas expedições da Frente.

O filme pode ser assistido na plataforma digital VideoCamp, por meio de inscrição para exibições coletivas. Você só precisa se inscrever e justificar a exibição, que pode acontecer em qualquer tipo de comunidade: condomínio, escola, grupo de amigos, grupos de estudo etc.

O Canal Curta (pago) também realiza exibições periódicas: as próximas acontecerão no último dia de 2021, e também em 1, 3 e 4 de janeiro e 4 de fevereiro de 2022, sempre às 21h.

No segundo vídeo, abaixo, Rita Piripkura conta a história do massacre de sua etnia em depoimento à ONG Survival International.

Foto (destaque): Rogério Assis/ISA

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Sandra
Sandra
3 anos atrás

Fauna, flora e indígenas são as vítimas explícitas da ambição e egocentrismo dos inimigos ambientais, cuja fome e sede de dinheiro são insaciáveis. Humanos desalmados e sem noção capazes de destruir, na boa, a Casa Planetária de seus filhos e netos, sem remorso algum, mentalmente insanos, imaturos e maus.

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