“Vocês sabem o impacto que seus negócios estão causando aos povos indígenas e ao meio ambiente, aqui, no Brasil? A Amazônia está em chamas, o meio ambiente está em risco. Estamos vivendo uma das piores crises de todos os tempos. Por isso, nós queremos saber se vocês estão dispostos a cumprir uma promessa e a encerrar seus negócios com destruidores do meio ambiente e com violações dos direitos dos povos indígenas”.
Esta foi a mensagem gravada por Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB – Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros, em vídeo que o Greenpeace UK projetou em frente à sede da Tesco, terceira maior cadeia de supermercados do mundo em receita bruta, com 6.800 lojas em 11 países.
O vídeo foi exibido em uma tela gigante projetada por um caminhão na entrada da empresa, por onde circulam funcionários e visitantes. No final da mensagem de Sonia, a ONG pergunta: De que lado você está?.
“Um poderoso apelo da Amazônia”, disseram os ativistas sobre o protesto na frente da Tesco. Eles ainda colocaram faixas na fachada – em cima do logotipo e ao lado das portas – com o rosto de Sonia e a frase “Tesco: carne industrial destrói florestas”.
Numa passarela de 13 metros, instalada no caminho que conduz às portas dos escritórios da multinacional, imagens apresentavam a “cadeia da destruição” da qual a Tesco faz parte. Quem passa por ali, vê primeiro uma imagem de floresta intocada. Depois: imagens de incêndios na floresta, plantações de soja, ração animal e, por fim, o frango embalado nas prateleiras da Tesco.
Vale lembrar que a questão De que lado você está? – levantada pelo Greenpeace UK neste protesto – faz parte da campanha lançada na semana passada para chamar a atenção de investidores, por três organizações – Apib, Observatório do Clima e 342 Amazônia, com apoio do Greenpeace Brasil – que acrescenta: Da Amazônia ou de Bolsonaro?
Tesco nega comprar carne do Brasil; Greenpeace argumenta
No mês passado, a Tesco declarou que só compra carne da Irlanda e do Reino Unido, como noticiamos aqui. Mas, de acordo com o Greenpeace UK, ela continua comprando frango e carne suína de duas empresas do Reino Unido – Moy Park e Tulip -, controladas pela brasileira JBS, que é uma das empresas que mais contribui para a destruição da floresta amazônica.
No vídeo, Sonia Guajajara cobra a promessa feita pela Tesco de eliminar fornecedores envolvidos com desmatamento para commodities como a soja até 2020. Mas, de acordo com o Greenpeace, em 2018, de forma silenciosa, a multinacional alterou essa meta para 2025.
A ONG destaca ainda que, como a empresa vende mais carne do que qualquer supermercado no Reino Unido, isso a torna a maior consumidora de soja do país, de acordo com dados divulgados pela própria empresa: “99% da soja que atravessa sua cadeia de abastecimento é utilizada como ração para produzir carne e laticínios”.
O Greenpeace ainda destaca que a empresa não revela de onde vem a soja utilizada e que “apenas 1% da soja da Tesco é certificada”, ou seja, livre de desmatamento. “Em vez de garantir que a soja que usa não está vinculada ao desmatamento, a empresa usa uma calculadora online para estimar a quantidade de soja que usou e, a seguir, compra a quantidade equivalente de créditos para compensá-la”.
Para Elena Polisano, ativista florestal do Greenpeace no Reino Unido, “a mensagem de Sônia Guajajara para a Tesco vem direto do seio da Amazônia. O povo Guajajara e muitos outros povos indígenas em todo o Brasil sofreram enormes perdas de suas terras e de suas vidas devido ao desmatamento para fazendas de carne e plantações de soja. A Tesco não pode continuar a fechar os olhos à cadeia de destruição da qual faz parte. Eles não podem alegar inocência enquanto continuam a comprar de empresas controladas pelos destruidores da Amazônia. Eles não podem vender grandes quantidades de carne industrial alimentada com soja enquanto afirmam que estão fazendo tudo o que podem para impedir o desmatamento”.
E acrescenta: “Até agora, a Tesco respondeu aos nossos apelos passando a responsabilidade para o governo de introduzir uma legislação de desmatamento. Embora a legislação seja importante, precisamos urgentemente que os governos e a indústria liderem uma mudança completa de um sistema alimentar que depende da destruição da natureza para um que funcione com a natureza. Nossa saúde, a estabilidade do clima e o futuro das florestas do mundo dependem de comermos menos carne e laticínios. Ao comer principalmente alimentos à base de plantas, poderíamos alimentar mais pessoas com todas as calorias e nutrição necessárias para uma dieta saudável sem destruir as florestas”.
Agir de maneira transparente é urgente. Esperamos que a Tesco responda às acusações do Greenpeace e que possa servir de exemplo para as demais empresas que ainda consomem produtos que transformam a floresta em cinzas e pasto e ajudam a violentar os povos originários. Estes são os únicos que sabem proteger a biodiversidade, por isso falam com propriedade. Suas reivindicações são legítimas.
Abaixo, o tweet do Greenpeace que mostra detalhes da ação e do vídeo com o apelo de Sonia Guajajara:
Fotos: reprodução vídeo