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Sobe para 98 o número de botos encontrados mortos em Coari, no Amazonas

Em apenas dois dias, o número de botos-vermelhos (ou cor-de-rosa) e tucuxis encontrados mortos em Coari, no Amazonas, aumentou significativamente. De 75 golfinhos de rio sem vida, como contamos aqui, ontem (14/11) chegou a 98, anunciou a ONG Sea Sheperd Brasil.

Pesquisadores de diversas instituições e ONGs (veja relação no final deste post) que, em setembro e outubro, atuaram no Lago Tefé recolhendo amostras de botos mortos para análise e investigação (foram mais de 150 carcaças) e ainda tentar salvar alguns indivíduos, se deslocaram para o Lago Coari, que fica na mesma região. A liderança da operação é do ICMBio.

A primeira hipótese, principalmente na tragédia em Tefé, é de que há relação direta das mortes com a seca histórica que assola o estado do Amazonas este ano. Além do calor intenso que elevou de forma drástica a temperatura das águas dos rios.

Desde a semana passada, os rios Negro e Solimões têm dado sinais de recuperação com a subida das águas – esta semana desceram um pouco -, mas a melhora ainda é insuficiente para tirar as 62 cidades que compõem o Amazonas do estado emergência.

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Algas, temperatura, pesca…

O lago de Coari e o lago de Tefé possuem características geomorfológicas similares, com grandes lagos (os chamados Lagos de Ria) se afunilando em um canal estreito até desembocar no rio Solimões. Também como em Tefé, no lago em Coari foi observada a proliferação de algas da espécie Euglena sanguinea, que pode produzir toxina chamada Euglena sanguinea (euglenoficina), potencialmente tóxica para peixes, “mas não há estudos comprovando que é tóxica para mamíferos”, salienta Gravena.

Tanto em Tefé como em Coari foi observado nível de água muito baixo, muito próximo do recorde histórico observado em 2010. Mas a alta temperatura de até 41ºC registrada no lago Tefé não foi registrada no lago Coari, “que atingiu, no máximo, 34ºC desde o início das medições, destacou Gravena. “Você vê que é um rio ainda cheio de vida, muitos tucuxis, muitos botos nadando, muitos peixes-boi”, contou Waleska Gravena, da UFAM/Coari, que liderou a operação na região até 8/11.

As análises da água, realizadas pela UFAM, pelo INPA e IDSM, também indicam que não houve alteração significativa em sua composição físico-química (toxicidade), assim como observado em Tefé. 

Em Coari também foram identificadas marcas de redes de pesca e de objetos cortantes nos corpos dos botos e tucuxis, em muito maior quantidade do que em Tefé, o que alerta os pesquisadores para a caça ilegal do peixe-boi, que infelizmente é uma marca da região.

Outras tragédias

Miriam Marmontel, pesquisadora titular do Instituto Mamirauá, acredita que ainda é muito cedo para chegar a conclusões, porém, o alto volume de mortandade em Coari revela que os motivos da morte destes animais certamente não estão isolados em somente um ponto da Amazônia.

Ou seja, essa tragédia pode estar acontecendo em outros lugares. Por isso, a equipe já planeja visitar regiões próximas para verificar se há mortandades que não estão sendo monitoradas.

Instituições envolvidas 

Comandada pelo ICMBio, a operação em Coari é coordenada pelo Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) da UFAM/Coari, Sea Shepherd Brasil e Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, com o apoio de diferentes instituições:

– Aiuká Consultoria em Soluções Ambientais, 
– Aqua Viridi, 
– Aquasis, 
– Conselho Regional de Medicina Veterinária do Amazonas, 
– European Association for Aquatic Mammals, 
– Nuremberg Zoo, 
– Friends of Nuremberg Zoo Association, 
– Fundação Mamíferos Aquáticos, 
– Fundación Mundo Marino, 
– GRAD – Grupo de Resgate de Animais em Desastres, 
– Greenpeace, 
– IDSM – Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá,
– INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 
– Instituto Aqualie, 
– Instituto Baleia Jubarte, 
– Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), 
– International Fund for Animal Welfare, 
– IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas, 
– Lapcom/USP, 
– Loro Parque Fundación, 
– National Marine Mammal Foundation, 
– Oceanogràfic València, 
– Planète Sauvage, 
– R3 Animal, 
– Rancho Texas, 
– Sea Shepherd Brasil, 
– Sea Shepherd France, 
– SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund, 
– UFAM
– Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, 
– WWF-Alemanha, 
– WWF-Áustria, 
– WWF-Brasil, 
– WWF-Reino Unido, 
– YAQU PACHA e 
– Zoomarine Portugal.

Destaco ainda a atuação do IBAMA, do Corpo de Bombeiros de Tefé, do Exército Brasileiro, da Marinha do Brasil, da Base Fluvial Arpão SSP-AM, da Polícia Militar do Amazonas, do Colégio Militar do Estado do Tocantins Professora Antonina Milhomem, prefeituras de Tefé e Coari, Secretaria do Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente de Coari, SEMMAC/Tefé e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Conservação (Tefé). E o apoio da Transpetro (Petrobras Transportes) e das companhias aéreas Azul, LATAM e VoePass.
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Foto: Caio Rodriguez/Sea Shepherd Brasil (pesquisadora analisa carcaça de boto em avançado estado de decomposição)

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Ricardo
Ricardo
1 ano atrás

Muito triste, isso! É o planeta reagindo às interações inconsequentes de parcela dos seres humanos. Sou músico e, recentemente, lancei um álbum autoral. Entre as 10 canções, gravei “A Guelra Tá Perdendo a Guerra”, que trata, exatamente, desse tema. Quem quiser conhecer pode acessar a canção (com a letra), por esse link: https://www.letras.mus.br/kadim-duedel/a-guelra-ta-perdendo-a-guerra/ . Se gostarem, please, compartilhem e divulguem, ok?

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