Nas últimas semanas, tenho escrito aqui sobre alguns países que têm servido de exemplo durante essa crise global de saúde. Já falei sobre como, depois de controlar a pandemia, a Nova Zelândia lançou uma campanha de reconexão ao mundo com valores da cultura indígena Māori, e há poucos dias, relatei como a Inglaterra anunciou um fundo de £1 bilhão para ajudar estudantes a recuperar o conteúdo perdido durante o fechamento das escolas. E hoje, me deparei com essa notícia vinda de Portugal.
Além de ter sido um dos países que conseguiu melhor conter o avanço do novo coronavírus – os portugueses registraram cerca de 40 mil casos confirmados da doença e pouco mais de 1,5 mil mortes – o Ministério da Educação lançou no dia 20 de abril um programa de aulas de apoio, que vão ao ar pela RTP, o canal de televisão estatal do país. A ‘Telescola’ começou a operar pouco mais de um mês após o fechamento das salas de aula físicas, em 16 de março.
Chamado de #EstudoEmCasa, 112 professores de escolas públicas e privadas se revezam em aulas gravadas, que são transmitidas entre às 9h da manhã e às 5h30 da tarde.
O conteúdo é para estudantes do 1º até o 9º Ano, aproximadamente 850 mil crianças e adolescentes. São aulas de Português, Matemática, Ciências, Leitura, Inglês, Cidadania, Ciências, História, Geografia, Física, Química, Espanhol, Alemão, Francês e até, Educação Física.
O objetivo do governo de Portugal com o #EstudoEmCasa foi ajudar aqueles jovens com dificuldade em ter acesso à internet. Estimativas apontam que só no Ensino Básico, esse é o caso de 500 mil estudantes.
Para aqueles que possuem boa conexão em casa, as aulas podem ser revistas através de streaming, através da RTPPlay.
Aula com o presidente de Portugal
Em 16 de junho, os telespectadores do #EstudoEmCasa tiveram uma surpresa. O presidente da República*, o professor Marcelo Rebelo de Sousa, deu uma aula sobre “as lições da pandemia“.
Professor de direito e jornalista, o presidente começou agradecendo todo o empenho dos docentes que são os principais responsáveis por viabilizar o projeto das aulas pela televisão.
Em cerca de 30 minutos, ele enumerou as dez lições que acredita serem as mais importantes aprendidas com a atual pandemia. Falou na importância do sistema de saúde, da união e da colaboração de todos, do egoísmo de alguns países e do esforço dos trabalhadores essenciais.
Rebelo de Sousa contou a emoção que sentiu quando pode, pela primeira vez, depois que o isolamento foi encerrado em Portugal, tomar um banho de mar. E ressaltou que isso só foi possível graças ao sacrifício de todos.
Que exemplo de presidente! Que pena que não podemos contar com alguém parecido como ele em Brasília.
Abaixo, a aula do professor e presidente de Portugal, na íntegra:
Recentemente, houve um pequeno aumento de número de casos de COVID-19 em Portugal, e com isso, o governo voltou a restringir horários do funcionamento do comércio nas principais cidades.
A previsão é que, se não houver uma segunda onda de contágios, os portugueses voltem à aula, nas escolas, em setembro, quando começa o próximo ano letivo nos países do Hemisfério Norte.
*Vale lembrar que Portugal tem um sistema político de semipresidencialismo. O presidente da República, que funciona como chefe de Estado, é eleito por voto direto e responsável por nomear um primeiro-ministro. Diferente do Brasil, não há um Senado e Câmara dos Deputados, mas apenas a Assembleia da República.
Foto: reprodução Facebook RTP