
Há muito ainda o que se descobrir e entender sobre as criaturas que vivem nos vastos oceanos do planeta. É o caso, por exemplo, do tordo-do-mar-do-norte (Prionotus carolinus), uma espécie de peixe encontrada em águas rasas de fundo arenoso na costa do Atlântico, ao longo dos Estados Unidos e do Canadá, e que usa suas “pernas”, na verdade extensões de suas nadadeiras peitorais, para se locomover.
Todavia, pesquisadores sempre desconfiaram que talvez essas pernas não fossem simplesmente utilizadas para ele se mover. Um dos motivos é que havia sempre uma fila de outros animais marinhos o seguindo no fundo do mar, ávidos por encontrar algum resto de comida deixada pelo tordo.
Pois ao estudar o comportamento de indivíduos da espécie em aquários, cientistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, descobriram que as pernas são cobertas por sensores, similares às papilas gustativas que os seres humanos têm na língua. É por essa razão que os tordos conseguiram achar, em laboratório, presas enterradas, como mexilhões e outros crustáceos, sem pistas visuais.
O que os pesquisadores de Harvard descobriram também é que, aparentemente, apenas tordos de algumas áreas, em específico, desenvolveram esses sensores em suas nadadeiras, uma indicação de que isso possa ser um processo de evolução recente da espécie. “Este é um peixe que desenvolveu pernas usando os mesmos genes que contribuem para o desenvolvimento dos nossos membros e então reutilizou essas pernas para encontrar presas usando os mesmos genes que nossas línguas usam para saborear alimentos – muito louco”, diz Nicholas Bellono, pesquisador da Universidade de Harvard.
Para os cientistas, essa inovação evolutiva permitiu que os tordos-marinhos tivessem sucesso no fundo do mar de maneiras que outros animais não conseguem.
“Embora muitas características pareçam novas, elas geralmente são construídas a partir de genes e módulos que existem há muito tempo”, explica David Kingsley, pesquisador da Universidade de Stanford. “É assim que a evolução funciona: mexendo com peças antigas para construir coisas novas.”

Foto: Anik Grearson
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Foto de abertura: Anik Grearson