Quem acompanha o Padre Júlio Lancellotti nas redes sociais e ao vivo sabe do trabalho hercúleo que ele faz para amparar “o povo de rua”, no centro de São Paulo. Com o aumento dessa população nos últimos dois anos – eram 24 mil pessoas em 2019 e agora são 32 mil, segundo o Censo -, sua dedicação também aumentou, assim como a urgência de doações e a emoção.
Visivelmente cansado em alguns momentos, ele nunca capitula. Mas, ontem, chorou ao atender um homem em estado de hipotermia – chamado André Luís e que sempre viveu na rua -, em um abrigo municipal da cidade
“Cansa falar, cansa! Se aqui dentro tá assim, imagina por aí como é que tá?”, declarou como se pode ver pelo vídeo publicado em seu Instagram, que reproduzo no final deste post)
“Ele dormiu na rua. Deve ter ingerido álcool, que é o quadro de sempre. Ingere álcool, aquece, o álcool é volátil, metaboliza e começa a congelar”, explicou. “Ele tá com todo quadro de enrijecimento, mas, com o esse aquecimento vai voltando a pressão, mas é o quadro típico da hipotermia”.
Poucas horas antes, no mesmo Núcleo de Convivência São Martinho – abrigo que fica na zona leste da capital, que mantém convênio com a prefeitura e é administrado pelo Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto – morreu Isaías de Faria, de 66 anos, também morador de rua. Ele passou a noite com um amigo, Tiago Pereira, aguardando o local abrir para tomar o café da manhã.
Para o Padre Júlio, o exercício da caridade nunca foi tão vital quanto neste momento, já que a crise econômica e a pandemia – ambas resultantes da má gestão do governo Bolsonaro – ‘jogaram’ nas ruas um contingente enorme de pessoas, entre homens, mulheres e crianças, e muitas famílias!
Segundo o Censo, essa população aumentou 54%. Se forem considerados aqueles que pernoitam em albergues – ou seja, não vivem o tempo todo na rua -, essa quantidade cai para 31%. Mas esses locais, mantidos ou apoiados pela prefeitura, não são suficientes.
Entidades – incluída a Pastoral do Povo de Rua, coordenada pelo Padre Júlio – dizem que esse número é muito maior. E ele confirma ao revelar que as pessoas vulneráveis não estão apenas na rua ou em abrigos.
“Às vezes ele está metido em buracos, em lugares inacessíveis. E se você não tem contato com essas pessoas, você não sabe que elas existem”, diz.
Como no ano passado, esta semana o padre fez um apelo (ao lado) nas redes sociais para que as igrejas abram suas portas no período de 17 a 24 de maio e acolham pessoas em situação de rua, protegendo-as do frio intenso que promete castigar diversas partes do país até o final de semana.
No Instagram, mostrou a sala na Catedral Metropolitana de São Paulo “preparada para acolher no frio irmãos em situação de rua” (foto abaixo). Além de um colchão, cada pessoa recebeu um cobertor e um saco de dormir do projeto Casulo pra Rua sobre o qual já contamos aqui e aqui.
Em São Paulo, o governo estadual, a Defesa Civil e o metrô anunciaram a abertura de um centro de acolhimento provisório na estação Dom Pedro II, no centro da cidade, onde, por meio do programa móvel do Bom Prato, estão sendo distribuídas sopas e bebidas quentes.
Cobertores, roupas de frio e doações em dinheiro
O músico e apresentador João Gordo – que desde abril de 2020 oferece marmitas veganas a moradores de rua (Solidariedade Vegan) – se uniu ao Padre Júlio Lancelotti, com o apoio do Instituto Conhecimento Liberta, numa campanha de crowdfunding para arrecadar R$ 100 mil para a compra de cobertores.
Lançada em 17 de maio, até ontem 1622 pessoas participaram da “vaquinha”, que arrecadou R$ 175.845 e foi encerrada.
Mas a campanha continua com doações de cobertores, além de roupas e acessórios para enfrentar o frio, que devem ser entregues em dois endereços: Rua Taquari 1.100, na Mooca, e na Rua Djalma Dutra, 3, bairro da Luz.
Sem esquecer das doações em dinheiro, que são sempre necessárias e urgentes e podem ser feitas através de depósito na conta da Paróquia de São Miguel Arcanjo – Banco Bradesco, conta 034857-0, CNPJ 63.089.825/0097-96 – e também pelo PIX 63.089.825/0097-96.
O Padre Júlio é, hoje, a figura mais importante e influente da caridade e da solidariedade em São Paulo e tem sido muito atacado por isso, fato que torna ainda mais urgente apoiá-lo. Mas há outras iniciativas que valem ser compartilhadas e promovidas porque também têm feito a diferença na vida de pessoas em situação de vulnerabilidade.
E na sua cidade? Como está o acolhimento das pessoas que vivem nas ruas? Que iniciativas têm feito a diferença? E neste frio, em especial? Conte nos comentários.
Agora, assista ao depoimento emocionado do Padre Júlio:
Foto: reprodução do Instagram