Não bastasse a ômicron, 2022 começa com mais uma má notícia. Segunda análises divulgadas por duas organizações internacionais, a temperatura dos oceanos atingiu um novo recorde no ano passado. E o pior, pela sexta vez consecutiva. “O aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera devido às atividades humanas retém o calor dentro do sistema climático e aumenta o conteúdo de calor do oceano”, alertam cientistas em artigo científico divulgado há poucos dias na publicação Advances in Atmospheric Sciences.
Ainda segundo os pesquisadores, o aumento da temperatura oceânica vem sendo percebido desde a década de 50. Em 2021, apesar do fenômeno La Niña, que deveria causar o esfriamento das águas do Pacífico, as regiões ao norte dos Oceanos Pacífico e Atlântico, além do Mediterrâneo, registraram um calor sem precedentes.
A análise apontou que ao todo, os 2.000 metros superiores em nossos oceanos, onde ocorre o maior volume do aquecimento, absorveram mais 14 Zettajoules (uma unidade de energia elétrica igual a um sextilhões de joules) em 2021 do que em 2020.
“O conteúdo de calor do oceano está aumentando implacavelmente, globalmente e este é um indicador primário de mudança climática induzida pelo homem”, destaca Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica no Colorado, nos Estados Unidos, e um dos autores do artigo publicado esta semana.
“Atualmente os oceanos absorvem de 20 a 30% das emissões humanas de dióxido de carbono, levando à acidificação de suas águas e deixando mais CO2 no ar”, explica Lijing Cheng, professor associado do Centro Internacional de Ciências Climáticas e Ambientais da Academia Chinesa de Ciências e principal autor do estudo. “Monitorar e entender o acoplamento de calor e carbono no futuro são importantes para rastrear as metas de mitigação das mudanças climáticas”.
Os pesquisadores ressaltam ainda que, o aumento da temperatura dos oceanos tornam mais intensos tempestades, furacões e chuvas extremas, e em consequência, inundações e enchentes, como é o caso da enfrentada pelos moradores de Minas Gerais, no Brasil, atualmente. “A água aquecida do oceano se expande e corrói as vastas camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida, que estão derramando coletivamente cerca de 1 trilhão de toneladas de gelo por ano, com esses dois processos alimentando o aumento do nível do mar”, afirmam.
Ontem (13/01) a Agência Nacional de Oceano e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) também divulgou sua análise sobre a temperatura da Terra no ano passado. “Depois de dois anos consecutivos (2019 e 2020) classificados entre os três mais quentes já registrados, o planeta ficou um pouco mais frio em 2021. Mas não muito. E ainda assim, ficou em sexto lugar na lista dos anos mais quentes já observados desde 1880”, diz o comunicado.
A temperatura das superfícies terrestre e oceânica em 2021 foi de 0,84 graus acima da média do século 20. E marcou o 45º ano consecutivo (desde 1977) com temperaturas globais subindo acima da média do século passado. Os anos 2013-2021 estão todos entre os dez anos mais quentes já registrados.
Ilustração mostra, em vermelho escuro, onde foram observados os maiores picos de temperatura em 2021
*Com informações da Chinese Academy of Sciences e da NOAA
Leia também:
Aumento da temperatura dos oceanos provocou perda de 14% dos corais do mundo desde 2009
Esculturas gigantes em novo museu submarino são metáfora da fragilidade e da força dos oceanos
Mais de 50 países formam coalizão para proteger áreas terrestres e oceanos do planeta, mas Brasil fica de fora
Potencial devastador dos furacões está cada vez maior com o aquecimento global
Foto: pixabay/domínio público (abertura) e gráfico NOAA
Obra nossa, nada mais surpreende.