Mais de 50 países formam coalizão para proteger áreas terrestres e oceanos do planeta, mas Brasil fica de fora

Mais de 50 países formam coalizão para proteger áreas terrestres e oceanos do planeta, mas Brasil fica de fora

Líderes de vários países se reuniram, presencialmente ou virtualmente, na última segunda-feira (11/01) no One Planet Summit, em Paris, para discutir questões como a crise da biodiversidade e a relação entre a saúde humana e a natureza. O presidente francês, Emmanuel Macron, presidiu o evento, que contou com a participação do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

Durante o encontro, mais de 50 países anunciaram a formação da High Ambition Coalition (HAC) for Nature and People, uma coalizão internacional que se compromete a proteger, até 2030, pelo menos 30% das áreas terrestres e dos oceanos do planeta.

O grupo é liderado pela Costa Rica, Reino Unido e França. O objetivo principal é deter o avanço da extinção de espécies e da degradação de ecossistemas.

“A proteção de 30% do planeta, sem dúvida, melhorará a qualidade de vida dos cidadãos e nos ajudará a alcançar uma sociedade justa, descarbonizada e resiliente. A cura e a recuperação da natureza representam um passo importante para o bem-estar do ser humano, criando milhões de empregos verdes e azuis de qualidade e cumprindo a agenda de 2030, especialmente no que tange a nossos esforços de recuperação sustentável”, diz Andrea Meza, Ministra do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica.

O Brasil não aparece na lista dos países que aderiram ao pacto, apesar de vários de seus vizinhos sul-americanos terem assinado o compromisso, como Chile, Colômbia, Equador e Peru.

“O Brasil foi convidado a aderir ao HAC – todos os 190 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica são incentivados a aderir. Outros países estão em vários estágios de discussão para aderir ao pacto, mas o Brasil provavelmente não entrará neste momento”, revelou Susan Tonassi, assessora de comunicação da coalizão.

Infelizmente, cada vez mais nosso país se torna um pária na questão ambiental, bem diferente do seu papel de liderança exercido no passado.

Em outubro, por exemplo, o Brasil não assinou um compromisso global para reverter a perda da biodiversidade. Durante o United Nations Summit on Biodiversity, Encontro das Nações Unidas pela Biodiversidade, líderes de 76 países, além das nações da União Europeia, referendaram um compromisso que estabelecia ações urgentes, como o combate ao descarte de plástico, a implementação de políticas baseadas na ciência e o reconhecimento do papel crucial da sabedoria tradicional e indígena. O governo de Jair Bolsonaro preferiu ficar de fora.

Não há compromisso financeiro exigido aos países participantes da High Ambition Coalition for Nature and People. No entanto, as nações concordam em se reunir ao longo do próximo ano e, juntas, se engajarem em ações que vão desde a assinatura de declarações até a realização de coletivas de imprensa e o recrutamento de vários países.

Entre os principais pilares da iniciativa estão a gestão sustentável, novas metas para a proteção da biodiversidade, melhoria na administração de áreas protegidas já existentes e aumento de financiamentos, seja pelo poder público ou pelo setor privado.

Por que 30%?

Nas últimas décadas, milhares de plantas, insetos, aves, mamíferos, répteis e anfíbios sumiram do planeta. Simplesmente deixaram de existir. De acordo com historiadores, a Terra já passou por cinco grandes períodos de extinção. No último deles, o choque de um meteoro gigante teria provocado a morte dos dinossauros.

Mas cientistas já consideram o que está acontecendo nos dias de hoje como uma nova onda de extinção em massa.

Atualmente apenas 15% das áreas terrestres do planeta e 7% dos oceanos estão protegidas. E evidências científicas indicam que uma forma de evitar a crise da extinção em massa implica na proteção de, no mínimo, 30% do planeta até 2030.

Já pelo lado econômico, um estudo recente da consultoria McKinsey concluiu que a preservação de 30% das terras e pelo menos 30% dos oceanos do planeta poderiam criar até 650 mil novs empregos e manteriam outros 30 milhões nas áreas de ecoturismo e pesca sustentável.

“Temos uma oportunidade ímpar na Conferência sobre Biodiversidade deste ano, que será realizada na China, de elaborar um acordo para proteger pelo menos 30% das terras e oceanos do mundo até 2030. Tenho esperança de que nossa ambição conjunta impeça o declínio global do ambiente natural, crucial para a sobrevivência do nosso planeta”, destaca Zac Goldsmith, ministro do Meio Ambiente do Reino Unido.

Países membros da Coalizão

Alemanha
Angola
Armênia
Benin
Botswana
Canadá
Chile
Colômbia
Costa Rica
Costa do Marfim
República Tcheca
República Democrática do Congo
Dinamarca
República Dominicana
Emirados Árabes Unidos
Equador
Eslováquia
Eslovênia
Espanha
Etiópia
Comissão Europeia
Finlândia
França
Gabão
Grécia
Granada
Guatemala
Irlanda
Itália
Luxemburgo
Japão
Quênia
Ilhas Marshall
México
Mônaco
Mongólia
Moçambique
Holanda
Nicarágua
Nigéria
Paquistão
Panamá
Peru
Portugal
Reino Unido
Romênia
Ruanda
Senegal
Seychelles
Suíça
Uganda

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*Texto atualizado às 13h12 para incluir informação da assessoria de imprensa da High Ambition Coalition for Nature and People sobre a participação do Brasil no pacto.

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Foto: Andreas Gücklhorn on Unsplash

Um comentário em “Mais de 50 países formam coalizão para proteger áreas terrestres e oceanos do planeta, mas Brasil fica de fora

  • 14 de janeiro de 2021 em 5:35 PM
    Permalink

    Somos a “persona non grata” no planeta, quiçá no Universo mas pior do que isso, governantes parecem ter orgulho disso, ainda que brasileiros sofram de desgosto e chorem por causa disso.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.