Primeiro dia de Jatobazinho ninguém esquece. Aliás, a Escola Jatobazinho é inesquecível, seja por quem passou por lá ou por quem ouviu falar. É assim. Você conhece a Jatobazinho?
Chegamos ali no dia 8 de outubro de 2011, quase no final de nossa Expedição ao Pantanal. Havia uma grande movimentação, pois as famílias deixavam seus filhos em tempo integral nessa escola. Assim foi.
Presenciamos a chegada de muitas rabetas vindas de dois ou três dias de viagem até Jatobazinho. As embarcações vinham principalmente de cima, do profundo Pantanal, lá dos lados da Serra do Amolar, “donde nada há”, no dizer do popular, e das pessoas que não entendem e nem querem entender o que significa esse profundo Pantanal.
Mas os xexéus estavam lá também, a receber famílias, alunos e visitantes e nem aí pra ninguém. Era época de construir seus ninhos. Em breve, muito breve, eclodiriam ovos e nasceriam filhotes e tudo o que a natureza pede em troca dessa passagem é atenção, não é mesmo?!
O xexéu (Cacicus cela) é um pássaro muito conhecido no norte e centro-oeste do país. Em algumas regiões também é chamado de japiim, japiim-xexéu, japim, japuíra, joão-conguinho, xexéu-de-bananeira ou papa-banana.
Belíssima ave, em meio à plumagem negra destacam-se seus olhos azuis e as penas amarelo ouro próximo à cauda e às asas.
O macho canta e as fêmeas tecem
O macho voa daqui pra lá, canta, dança para incentivar as fêmeas a tecerem vários ninhos. Um aqui, outro acolá, formando uma colônia com muitos ninhos. Numa única árvore há um condomínio!
As fêmeas trabalham delicadamente e com uma precisão escandalosa! Estão fecundadas e botam ovos nestes sacos dependurados nas árvores. Entrelaçam raízes, galhinhos, hífas de cogumelos e o que encontram pelo caminho. Juntam tudo, forram com penas e material macio e ali depositam seus ovos.
A atividade é incessante e vem de todos os lados, com machos e fêmeas se revezando em construir os mais elegantes e belos ninhos donde surgirá a próxima leva de xexéus.
A partir deste momento mágico iniciamos o nosso mergulho na Jatobazinho, uma escola única, especial, e que ficou famosa por conta de uma onça-pintada encontrada debilitada em 2018.
Recuperada e em liberdade, foi acolhida por um programa de reintrodução desses animais, o Fundacion Rewilding Argentina. Batizada de Jatobazinho, em homenagem à escola, virou manchetes de vários jornais e programas de TV. E seus filhotes apareceram em reportagem aqui no Conexão Planeta.
Hoje Jatobazinho está saudável e passa muito bem no parque nacional argentino. Assim como as crianças da escola pantaneira e os xexéus que com seu canto as saúdam todos os dias.
A rabeta é uma embarcação comum no Pantanal para navegar em águas rasas
O grupo reunido após o desembarque na Escola Jatobazinho
A primeira Roda de Passarinho na Jatobazinho, à sombra de uma mangueira
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Fotos: Renato Rizzaro