Ao contrário de um de seus mais famosos personagens no cinema, Indiana Jones, que tinha pavor de cobras, o ator e ambientalista Harrison Ford não tem medo de serpentes. Pelo contrário, agradeceu a homenagem recebida ao ter seu nome batizando uma nova espécie descoberta nos Andes peruanos, a Tachymenoides harrisonfordi.
“A cobra tem olhos nos quais você pode se afogar e passa a maior parte do dia tomando sol em uma piscina de água suja – provavelmente teríamos sido amigos no início dos anos 60”, disse Ford em uma declaração irônica, bem em seu estilo.
Aos 81 anos, Ford continua sendo um dos mais importantes ativistas em Hollywood quando o tema é conservação ambiental e mudanças climáticas. Ele ocupa o cargo de vice-presidente do Conselho da organização Conservation International. Emprestou sua voz para o filme “O Oceano”, parte da série “A Natureza Está Falando”.
A nova espécie de cobra foi encontrada no alto de montanhas em áreas de pântano. Medindo aproximadamente 40 centímetros, possui suas escamas em tom de cobre e olhos cor de âmbar. É inofensiva para o ser humano, mas não se poder dizer o mesmo quando ela está diante de anfíbios e outros répteis.
“Essa descoberta é um lembrete de que ainda há muito a aprender sobre nosso mundo selvagem – e que os humanos são uma pequena parte de uma biosfera incrivelmente vasta. Neste planeta, todos os destinos estão interligados e, neste momento, um milhão de espécies estão à beira do esquecimento. Temos um mandato existencial para consertar nosso relacionamento rompido com a natureza e proteger os lugares que sustentam a vida”, afirmou Ford.
A cobra descoberta no alto dos Andes peruanos
(Foto: divulgação / © Edgar Lehr)
O trabalho dos pesquisadores para descrever a Tachymenoides harrisonfordi faz lembrar um pouco também as aventuras de Indiana Jones. Na expedição ao Parque Nacional de Otishi, no Peru, os pesquisadores acabaram se deparando com um acampamento clandestino de um cartel de drogas. A região é conhecida como “o vale da cocaína”.
“Eu carregava um walkie-talkie para que pudéssemos nos comunicar se a equipe fosse separada”, contou o biólogo Edgar Lehr, professor da Universidade de Illinois Wesleyan. “No nono dia de viagem, de repente ouvi vozes desconhecidas pelo aparelho. Estávamos em um local incrivelmente remoto, então soubemos imediatamente que havia outras pessoas por perto que estavam usando a mesma frequência de rádio. As vozes também pareciam nos ouvir e pareciam chocadas”, contou.
Apesar dos riscos, os cientistas continuaram as pesquisas, mas acabaram terminando uma semana antes do previsto a expedição. Todavia, por causa das chuvas intensas na região, foi preciso que um helicóptero da Força Aérea do Peru retirasse a equipe do local.
Esta não é a primeira vez que Harrison Ford tem seu nome batizando uma espécie da fauna. Em 1993, uma aranha ganhou o nome de Calponia harrisonfordi e uma década depois, uma espécie de formiga foi chamada de Pheidole harrisonfordi.
Muitos são os cientistas hoje em dia que decidem nomear novas espécies com nomes de celebridades. É uma tentativa de aproximar a ciência dos leigos. Ao chamar a atenção das pessoas, de uma maneira mais popular, divertida e didática, pesquisadores querem engajá-las nos esforços de conservação e proteção de plantas e animais, que de outra maneira, poderiam passar despercebidos.
Já escrevi aqui, por exemplo, sobre as aranhas que homenageiam David Bowie, a cobra que ganhou o nome da mãe do ator Leonardo DiCaprio e os pseudoescorpiões chamados de Frida Kahlo e Arnold Schwarzenegger.
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Foto de abertura: divulgação Lucas Films/Indiana Jones