Nova e ‘notável’ espécie de molusco marinho bioluminescente é descoberta na escuridão do oceano

“Uma nova espécie notável”. Foi assim que os pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI) descreveram a mais recente descoberta feita a cerca de 2.600 metros de profundidade, na costa da Califórnia, nos Estados Unidos. A lesma-do-mar, batizada de molusco misterioso, tem uma estrutura volumosa em forma de capuz em uma extremidade, uma cauda plana franjada com inúmeras projeções semelhantes a dedos na outra e órgãos internos coloridos no meio. E além disso tudo, ela é bioluminescente, ou seja, produz luz, algo essencial para sobreviver nessa zona do oceano, de completa escuridão.

A impressionante criatura foi avistada pela primeira vez no ano 2000. Na época, os cientistas já tinham ficado mesmerizados por suas características e não sabiam dizer ainda que tipo de espécie ela era. Contudo, ao longo das últimas duas décadas, ocorreram outras observações com a ajuda de robôs submarinos, e a coleta de um indivíduo, e assim, foi possível finalmente solucionar o mistério.

“Investimos mais de 20 anos na compreensão da história natural desta fascinante espécie de nudibrânquio. Nossa descoberta é uma nova peça do quebra-cabeça que pode ajudar a entender melhor o maior habitat da Terra”, diz Bruce Robison, cientista sênior do MBARI, que liderou os esforços para descrever o misterioso molusco.

Os pesquisadores explicam que a maioria dos nudibrânquios, também conhecidos como lesmas-do-mar, vive no solo do mar. Eles são comumente encontrados em ambientes costeiros, como poças de maré, florestas de algas e recifes de corais, e apenas um pequeno número de espécies tem como habitat as profundezas do mar abissal e colunas de água.

Diferentemente de outras lesmas-do-mar que usam uma língua áspera para ingerir presas, a nova espécie utiliza seu capuz para envolver e capturar crustáceos. Contudo, como os demais nudibrânquios, este também é hermafrodita, ou seja, apresenta órgão sexuais masculino e feminino.

Já para escapar de predadores, a enigmática criatura, que recebeu o nome científico de Bathydevius caudactylus, aproveita-se de sua transparência para nadar despercebida. Entretanto, quando de sente ameaçada, dispõe da bioluminescência para confundir e distrair seus inimigos.

“Quando o filmamos brilhando pela primeira vez com o ROV [robô submarino], todos na sala de controle soltaram um alto ‘Oooooh!’ ao mesmo tempo. Ficamos todos encantados com a visão”, relembra o cientista Steven Haddock. “Só recentemente as câmeras se tornaram capazes de filmar a bioluminescência em alta resolução e em cores. O MBARI é um dos únicos lugares no mundo onde levamos essa nova tecnologia para o oceano profundo, permitindo-nos estudar o comportamento luminoso de animais de águas profundas em seu habitat natural.”

Até o momento, o molusco misterioso só foi observado na costa do Oceano Pacífico da América do Norte.

*Com informações e entrevistas contidas no texto de divulgação do MBARI

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Foto de abertura: © 2014 MBARI