É bem no fundo do mar, na chamada “Twilight Zone”, termo em inglês que descreve áreas de grandes profundidades nos oceanos, que cientistas se deparam com algumas das criaturas mais incríveis e surpreendentes da natureza. Foi o caso recente, por exemplo, de uma lula-morango (Histioteuthis heteropsis), que recebe este nome por causa da sua coloração vermelha e pontinhos que brilham ao longo do corpo, filmada por pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI), da Califórnia, nos Estados Unidos,
A espécie não é rara, já foi observada muitas vezes, em profundidades entre 300 e 1.000 metros, mas o que a torna tão curiosa são seus olhos. Eles são de tamanhos e formatos diferentes. Um deles muito maior do que o outro – o esquerdo tem o dobro do diâmetro do direito -, e de cor amarela.
Em 2017, intrigada com os olhos dessa espécie de lula, a bióloga Kate Thomas, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, analisou mais de 150 vídeos feitos pelas expedições dos cientistas do MBARI e conseguiu descobrir a razão pela qual eles são assim.
Segundo ela, o olho maior e amarelado é utilizado para olhar para cima, procurando por sombras de outras criaturas marinhas contra a luz do sol, enquanto o menor é adaptado para olhar para baixo, escaneando a água mais profunda e escura em busca de flashes de bioluminescência.
“A lula-morango normalmente se orienta em um ângulo de 45 graus para vigiar simultaneamente as águas acima e abaixo. Ela examina as águas abaixo com uma sequência de rotação característica que os cientistas chamam de catraca. Primeiro, o manto torce em relação à cabeça, então a cabeça gira para se juntar a ela. Ao longo dessas curvas, a orientação do olho esquerdo permanece fixa na superfície acima”, completam os pesquisadores do instituto de pesquisa marinha de Monterey.
A lula-morango se alimenta de camarões, peixes e até de outras lulas.
Por sua vez, tem entre seus predadores lulas e peixes maiores
(Foto: Kate Thomas/Duke University)
Os cientistas esclarecem, entretanto, que apesar da coloração exuberante, no fundo do mar, sem as luzes dos veículos subaquáticos operados remotamente, essas lulas passam despercebidas de outras criaturas.
“Este animal fica perfeitamente escondido dos predadores. Os pigmentos vermelhos absorvem a luz azul e, como a única luz do sol que pode atingir a zona crepuscular do oceano está na extremidade azul do espectro de luz, essas criaturas vermelhas parecem pretas no fundo do mar”, explicam.
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Foto de abertura: divulgação MBARI