Desde o último dia 12 de janeiro, todos os museus dos Estados Unidos só poderão exibir artefatos de culturas indígenas após consultarem e terem permissão dos verdadeiros proprietários deles, ou seja, os representantes de suas etnias ou as tribos a que eles pertencem. A legislação foi aprovada no ano passado pelo governo do presidente Joe Biden e implementada pelo Ministério do Interior, sob a administração da Deb Halland, a primeira indígena a ocupar um cargo ministerial na história do país.
Nesta sexta-feira, o Museu de História Natural de Nova York, um dos mais famosos do mundo, que recebe 4,5 milhões de visitantes por ano, anunciou que irá fechar todas as exposições com objetos dos povos originários, a exemplo da imagem acima, com objetos dos Kayapós, do Brasil.
“As galerias que estamos fechando são de artefatos de uma época em que museus como o nosso não respeitavam os valores, as perspectivas e, de fato, a humanidade dos povos indígenas”, afirmou Sean Decatur, presidente do museu, em uma carta à equipe do museu. “Ações que podem parecer repentinas para alguns podem parecer muito atrasadas para outros.”
Ainda segundo Decatur, alguns objetos podem nunca mais ser expostos, mesmo após o processo de consulta. Durante esse período, várias galerias do museu que tem como foco a Cultura Nativa Americana serão cobertas, entre elas aquelas com artefatos dos Iroquois, Mohegans, Cheyenne e Arapaho.
Ao longo dos últimos meses, curadores e administradores de vários museus nos Estados Unidos têm conversado com advogados e tentando se adaptar à nova legislação. É de conhecimento público que no passado objetos eram roubados dos povos indígenas, muitos após o assassinato de suas tribos, e depois vendidos a museus ou colecionadores.
A lei do governo Biden tem como principal objetivo ainda acelerar uma legislação aprovada na década de 90, que determinava o retorno para os povos originários de restos humanos e itens funerários em posse de museus e outras instituições.
Todavia, representantes desses povos reclamaram que a devolução estava morosa e representava uma falta de respeito com seus antepassados.
“Finalmente estamos sendo ouvidos – e não é uma briga, é uma conversa”, disse Myra Masiel-Zamora, arqueóloga e curadora da Etnia Pechanga, em entrevista ao The New York Times.
Não é só nos Estados Unidos que há um movimento de retornar objetos culturais que foram indevidamente retirados de seus país originários. Em junho do ano passado, o Museu Nacional da Dinamarca se comprometeu a devolver um manto sagrado Tupinambá ao Brasil. E no começo de 2022, após 150 anos, o Chile devolveu ao povo Rapa Nui uma escultura da Ilha de Páscoa.
Mesmo que essas reparações estejam sendo feitas com séculos de atraso, é importante que aconteçam e mostrem de maneira clara os erros do passado.
Canoa gigante indígena no centro da galeria é um dos muitos artefatos que deixarão de ser expostos no Museu de História Natural de Nova York
(Foto: Denis Finnin/© AMNH)
*Com informações da reportagem do jornal The New York Times
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Foto de abertura: AMNH Library image #ptc-7815 D. Finnin, R. Mickens/©AMNH