Após 400 anos, indígenas americanos recebem de volta terras consideradas sagradas para seu povo e das quais foram expulsos

Após 400 anos, indígenas americanos recebem de volta terras consideradas sagradas para seu povo e das quais foram expulsos

Situada dentro de um refúgio nacional de vida selvagem, Fones Cliffs é uma área de falésias de quase 200 hectares no alto do rio Rappahannock, no estado americano de Virgínia, nos Estados Unidos. Há 400 anos, era o lar da tribo de mesmo nome, Rappahannock. Mas os indígenas foram expulsos de suas terras, tomadas pelos colonizadores britânicos. Agora, quatro séculos depois, eles as receberão de volta.

O anúncio da devolução das terras sagradas dos Rappahannock foi feito pela Secretária do Departamento do Interior dos Estados Unidos, Deb Haaland (a primeira indígena a ocupar um cargo de nível ministerial no governo federal, indicada na administração de Joe Biden), e se deu graças à doação de recursos por terceiros para que a organização Chesapeake Conservancy comprasse a área e a colocasse no nome dos Rappahannock.

“Trabalhamos por muitos anos para restaurar este lugar sagrado para a nossa tribo. Sendo as águias mensageiras de oração, esta área onde se reúnem sempre foi um local de importância natural, cultural e espiritual”, celebrou Anne Richardson, chefe da tribo dos Rappahannock.

Os penhascos Fones abrigam a maior concentração de águias americanas, a “bald eagle”, da costa leste do país e do Oceano Atlântico. A ave é símbolo dos Estados Unidos, mas está ameaçada de extinção.

Agora os Rappahannock pretendem montar no local uma réplica de um vila do século 16 e implementar um programa de educação ambiental aos visitantes e também, continuar o treinamento de jovens indígenas batizado de “Retorno ao Rio”.

Após 400 anos, indígenas americanos recebem de volta terras consideradas sagradas para seu povo e das quais foram expulsos

A chefe da tribo dos Rappahannock, Anne Richardson, à esquerda, e à direita, a secretária Deb Haaland
(Foto: Will Parson/Chesapeake Bay Program)

“O Departamento [do Interior] tem a honra de se juntar à tribo Rappahannock na co-administração desta parte de sua terra natal ancestral. Esperamos contar com a experiência tribal e o conhecimento indígena para ajudar a gerenciar a vida selvagem e o habitat da área”, disse Deb Haaland, muito emocionada, durante a cerimônia da entrega do título das terras. “Esta reaquisição histórica ressalta como tribos, proprietários privados e outras partes interessadas desempenham um papel central no trabalho desta administração para garantir que nossos esforços de conservação sejam conduzidos localmente e apoiem a saúde e o bem-estar das comunidades”.

Assim como a devolução de terras, em vários lugares governos têm também renomeado propriedades públicas com seus nomes originais. Na Califórnia, o parque até então conhecido como Patrick’s Point passou a ser chamado de “Sue-meg”, em reparação histórica à tribo indígena, massacrada por europeus no local (leia mais aqui). A mudança faz parte da iniciativa ‘Reexaminando Nosso Passado’, lançada pelo governador Gavin Newsom, em 2019, quando ele se desculpou publicamente pelo “papel sistêmico do estado na tentativa de genocídio de comunidades nativas e nos esforços para aniquilar suas culturas”.

No final de 2021, o governo da Austrália restaurou o nome aborígene de uma de suas ilhas, que voltou a se chamar K’Gari. Lá o “Native Title Act”, instaurado em 1993, começou a reconhecer o direito dos aborígenes como proprietários de suas terras originais.

*Com informações adicionais da CNN International

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Foto de abertura: Jeffrey Allenby/Chesapeake Conservancy

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.